terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Os mosquitos na esquina


Eu andava muito preocupado com a quantidade de notícias na grande mídia nacional,algumas temáticas polêmicas me deixam sem condições de dar uma opinião mais certeira. As esquinas do momento eram/são :competição eleitoral nos partidos republicanos e democratas nos EUA, mercado financeiro e as bolsas de Tóquio, NY e Bovespa,Big Brother Brasil, motoqueiros em Sampa,os heróis do capitalismo - capa da última (não)Veja, início dos campeonatos estaduais (Rio e São Paulo, do Pernambucano ainda posso dar pitaco),as relações do protetor solar com a moda praia verão no São Paulo Fashion Week, as escolas de samba ,seus enredos e suas madrinhas. Porém como uma luva apareceu a novidade que mobiliza tudo e todos ao mesmo tempo, falar de doença e mosquitos...De acordo com um colega meu - Siri o link do blog dele taí no Terra Alheia - o danado do mosquito não faz distinção de classe, cor, idade, gênero ou orientação sexual, é uma temática que coloca na boca do povo a discussão seja em : botecos, filas de banco, cinema, salas de aula, repartições e mais filas para tomar a vacina.É o que há no momento ir para fila de vacinação e mentir de forma sorrateira, primeiro dizendo que vai viajar para uma área de risco, depois afirmando que faz mais de 10 anos que não toma a vacina e ainda soltar uma história de que um primo do sobrinho, amigo do vizinho está com febre amarela...Bom, não quero generalizar as situações que as pessoas estão passando, o que seria um absurdo, o assunto é sério, mas cá com meus pensamentos, se estou em uma esquina onde tem mosquito para tudo que é lado, esgoto a céu aberto,falta saneamento, tem um monte árvores e até um restinho de mangue...Estou vivendo em uma área de risco ou não?Como também não entendo muito de mosquitos ou de epidemias, deixo aqui um texto político e informativo, sobre o debate atual do mosquito e suas implicações, assim como o link do espaço virtual que copiei a foto - http://www.ufrrj.br/institutos/it/de/acidentes/mosq.htm.
Epidemia de febre amarela ou de conversa mole?
Fonte : http://www.concepto.com.br/cclf/admin/modules/ombudspe/?id=257

O jornalista Luiz Carlos Azenha, ex-Globo, tem-se dedicado cada vez mais ao seu blog Viomundo.com.br , em que fala sobre os bastidores das notícias, faz coberturas internacionais e abre espaços para opiniões contraditórias do que normalmente se vê nos meios de comunicação corporativos. Ontem, O clínico e nefrologista Pedro Saraiva aproveitou o espaço do blog para fazer alguns esclarecimentos acerca da febre amarela. Vale a pena dar uma lida:

A cobertura da grande imprensa parece que não consegue chegar ao fundo do poço. Depois de inúmeros factóides e de acusar o presidente até de derrubar aviões comerciais, eles agora aparecem com essa irresponsabilidade de criar pânico na população através de um problema de saúde pública. Tive acesso a um texto da jornalista da Folha, Eliane Cantanhêde (que aliás, parece ser casada com um dos donos de uma produtora ligada as campanhas eleitorais do PSDB), que dizia o seguinte logo no primeiro parágrafo:

"Com sua licença, vou usar este espaço para fazer um apelo para você que mora no Brasil, não importa onde: vacine-se contra a febre amarela! Não deixe para amanhã, depois, semana que vem... Vacine-se logo! "

E depois de alguns parágrafos em que não esclarece nada, termina assim:

"O fantasma da febre amarela, portanto, paira sobre o país como um alerta num momento crucial, para que a saúde e a educação sejam preservadas antes de tudo o mais. Senão, Lula, o aedes aegypti vem, pica e mata sabe-se lá quantos neste ano --e nos seguintes. "

ABSURDO! ESTÃO USANDO A SAÚDE PÚBLICA PARA POLITICAGEM BARATA!

Alguns esclarecimentos:

Colunistas falam de epidemia com uma facilidade incrível para quem não entende o que quer dizer o termo. Epidemia não é o aparecimento de casos de uma doença no jornal. Uma epidemia só se caracteriza quando ocorre um aumento maior que 2x o desvio padrão sobre a incidência média de uma doença nos últimos anos.

Ou seja: Incidência média + 2x desvio padrão.

Não vi até agora nenhum jornal mostrar a incidência da febre amarela nos últimos 10 anos para uma comparação. Repare na média de casos do período FHC e Lula, será por isso que ninguém mostra os números?

1996 - 15 casos
1997 - 3 casos
1998- 34 casos
1999 - 76 casos
2000- 85 casos e 42 mortes
2001 - 41 casos e 22 mortes
2002 - 15 casos e 6 mortes
2003 - 64 casos e 22 mortes - obs: 58 dos casos diagnosticados na região sudeste, principalmente MG
2004 - 5 casos e 3 mortes
2005 - 3 casos e 3 mortes
2006 - 2 casos e 2 mortes
2007 - 6 casos e 5 mortes
(fonte : Min.Saúde)

Todos esses casos são da forma de transmissão em área silvestre da febre amarela. Desde a década de 1940 que não há relatos da transmissão urbana da febre amarela. Veja bem, transmissão em zona urbana é diferente de diagnóstico em zona urbana. A forma silvestre é endêmica pincipalmente nas regiões Norte e Centro-Oeste e se comporta de forma cíclica, com surtos a cada 5-7 anos

A transmissão em área silvestre é feita pelo mosquito do género Haemagogus, e se dá através, principalmente, de macacos infectados para humanos não imunizados por vacina. A forma urbana é transmitida do homem para homem através do Aedes aegypti, o mesmo da dengue. O risco de retorno da forma urbana não é novo, e existe desde a década de 80 quando houve a reintrodução do Aedes aegypti no Brasil.

Até o momento (15/01/08), apesar de toda histeria, apenas 2 casos foram comprovadamente de febre amarela este ano. E todos contraídos em áreas silvestres. Ou seja, nada de anormal.

Feitos os esclarecimentos, vamos aos comentários sobre a cobertura da mídia.

1- Estão noticiando morte de macacos, supostamente com febre amarela, como se isso fosse um sinal de que a doença está fora de controle. O pior, vários dos macacos noticiados tiveram exame negativo para febre amarela. Ou seja, estão noticiando apenas morte de macacos.
2- Estão noticiando as mortes por febre amarela como um fato novo do governo Lula, como se ninguém morresse da doença nos anos anteriores. Estão confundindo a ausência de casos urbanos com ausência de casos em geral.
3- E o mais grave, estão criando pânico na população e levando a uma corrida desnecessária e prejudicial aos postos de vacinação. Os comentários dos leitores nas edições da internet do Globo por exemplo, são assustadores. A mídia informa mal os leitores, e deixa que o boca-a-boca crie teorias da conspiração contra o governo.

A vacina da febre amarela não é vitamina C. Ela é feita com vírus vivo atenuado e por isso apresenta contra-indicações e efeitos colaterais. Quem não mora em área de risco ou não vai viajar para uma, não precisa e não deve receber a vacina. Além de tudo, ainda há o risco de falta da vacina para quem precisa.

Contra- indicações

Crianças com 4 meses ou menos de idade, devido ao risco de encefalite viral (contra-indicação absoluta).
Gestantes, em razão de um possível risco de infecção para o feto.
Pessoas com imunodeficiência resultante de doenças ou de terapêutica: infecção pelo HIV, neoplasias em geral (incluindo leucemias e linfomas ), Aids, uso de medicações ou tratamento imunossupressores (corticóides, metotrexate, quimioterapia, radioterapia), disfunção do timo (retirada cirúrgica ou doenças como miastenia gravis, síndrome de DiGeorge ou timoma).
Pessoas que tenham alergia a ovos, uma vez que a vacina é preparada em ovos embrionados.
Pessoas com alergia a eritromicina, um antibiótico que faz parte da composição da vacina.
Pessoas com alergia a gelatina, que faz parte da composição da vacina.
Pessoas com antecedentes de reação alérgica a dose prévia da vacina anti-amarílica.
Efeitos colaterais.

Reação alérgica grave (anafilática) ocorre em aproximadamente 1 em cada 131.000 doses aplicadas.
Reações no sistema nervoso central (encefalite) – cerca de 1 caso para cada 150.000 - 250.000 doses.
Comprometimento de múltiplos órgãos com o vírus da febre amarela vacinal - aproximadamente 1 caso para cada 200.000 - 300.000 doses. Acima de 60 anos a incidência desta complicação é maior (cerca de 1 caso para cada 40.000 - 50.000 doses). Mais da metade dos indivíduos com febre amarela vacinal evoluem para o óbito.

Se na remota hipótese de alguém morrer por tomar desnecessariamente a vacina a Sra.Eliane Cantanhêde vai se responsabilizar? Ou vai culpar o governo de novo?

Em vez de focar nos inúmeros problemas reais do nosso sistema de saúde, a imprensa prefere criar factóides que em nada ajudam a população.


Um comentário:

Prospero di Milano disse...

O detalhe:

foram (da última vez que eu vi) dez casos confirmados da Febre Amarela e oito mortes. O número de pessoas hospitalizadas porque tomaram outra dose antes do tempo foi de 31 (disseram que uma tinha morrido, mas não vi isso em nenhuma fonte confiável). Ou seja, o pânico causado provocou mais internações (embora, ainda bem, menos mortes) do que a própria doença.

Isso é que é jornalismo responsável.