quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Estarei na esquina com as muriçocas

Vou escrever sobre as flores da folia,
tem dias que é fogo, é fogo, é fogo...Falar de alegria...
mas hoje é quarta-feira de fogo,
não quero saber se acaba hoje,
se os outros dias não passam de uma repetida e repentina folia.
Esse ano o bloco faz uma justa homenagem ao Geraldo Vandré,
presumo - mesmo isso sendo arriscado- que milhares de pessoas que estarão por lá não saberão o porque disso, e quem é o cara,
porém meu otimismo em flores hoje acredita que talvez dezenas queriam depois saber o porque e quem é o cara da homanagem.
Gosto das Muriçocas e pronto.
Mesmo sem banheiros suficientes,
mesmo com umas brigas aqui e outra acolá,
mesmo com aquela cerveja quente que teima no final da noite,
mesmo com a afirmação da SUDEMA que vão desligar os trios de 01 hora da manhã - já andei atrás do último trio, com a última lata às 05:00 da matina em prévias anteriores,
mesmo que o frevo perca espaço para os carros com seus sons absurdos - poderiam começar desligando esses aí...
mesmo com a cara de ressaca do outro dia...Uma mistura de cigarro, com batida de uva, cerveja e whisky,
mesmo que mesmo assim, eu mesmo retorne mais cedo do que o habitual...
"Para não dizer que não falei das flores", mesmo dizendo que iria escrever sobre elas...
Olho todo dia para uma nova possibilidade :" e vejo flores em você".
Estarei em alguma esquina...porque nesse frevo a gente se enrosca.
Foto - http://www.muricocas.com.br

sábado, 26 de janeiro de 2008

Esquinaria

A esquina ria,
pesava, pensava, pretendia,
mambembes, saltimbancos,palhaços,lona e algodão-doce,
o Circo entra/fica na esquina,
e a esquinaria...a esquina ria.
"Senhoras e senhores, meninada, vamos em frente, o espetáculo não pode parar!"
http://www.facom.ufba.br/cordabamba - foto de João Alvarez

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Os mosquitos na esquina


Eu andava muito preocupado com a quantidade de notícias na grande mídia nacional,algumas temáticas polêmicas me deixam sem condições de dar uma opinião mais certeira. As esquinas do momento eram/são :competição eleitoral nos partidos republicanos e democratas nos EUA, mercado financeiro e as bolsas de Tóquio, NY e Bovespa,Big Brother Brasil, motoqueiros em Sampa,os heróis do capitalismo - capa da última (não)Veja, início dos campeonatos estaduais (Rio e São Paulo, do Pernambucano ainda posso dar pitaco),as relações do protetor solar com a moda praia verão no São Paulo Fashion Week, as escolas de samba ,seus enredos e suas madrinhas. Porém como uma luva apareceu a novidade que mobiliza tudo e todos ao mesmo tempo, falar de doença e mosquitos...De acordo com um colega meu - Siri o link do blog dele taí no Terra Alheia - o danado do mosquito não faz distinção de classe, cor, idade, gênero ou orientação sexual, é uma temática que coloca na boca do povo a discussão seja em : botecos, filas de banco, cinema, salas de aula, repartições e mais filas para tomar a vacina.É o que há no momento ir para fila de vacinação e mentir de forma sorrateira, primeiro dizendo que vai viajar para uma área de risco, depois afirmando que faz mais de 10 anos que não toma a vacina e ainda soltar uma história de que um primo do sobrinho, amigo do vizinho está com febre amarela...Bom, não quero generalizar as situações que as pessoas estão passando, o que seria um absurdo, o assunto é sério, mas cá com meus pensamentos, se estou em uma esquina onde tem mosquito para tudo que é lado, esgoto a céu aberto,falta saneamento, tem um monte árvores e até um restinho de mangue...Estou vivendo em uma área de risco ou não?Como também não entendo muito de mosquitos ou de epidemias, deixo aqui um texto político e informativo, sobre o debate atual do mosquito e suas implicações, assim como o link do espaço virtual que copiei a foto - http://www.ufrrj.br/institutos/it/de/acidentes/mosq.htm.
Epidemia de febre amarela ou de conversa mole?
Fonte : http://www.concepto.com.br/cclf/admin/modules/ombudspe/?id=257

O jornalista Luiz Carlos Azenha, ex-Globo, tem-se dedicado cada vez mais ao seu blog Viomundo.com.br , em que fala sobre os bastidores das notícias, faz coberturas internacionais e abre espaços para opiniões contraditórias do que normalmente se vê nos meios de comunicação corporativos. Ontem, O clínico e nefrologista Pedro Saraiva aproveitou o espaço do blog para fazer alguns esclarecimentos acerca da febre amarela. Vale a pena dar uma lida:

A cobertura da grande imprensa parece que não consegue chegar ao fundo do poço. Depois de inúmeros factóides e de acusar o presidente até de derrubar aviões comerciais, eles agora aparecem com essa irresponsabilidade de criar pânico na população através de um problema de saúde pública. Tive acesso a um texto da jornalista da Folha, Eliane Cantanhêde (que aliás, parece ser casada com um dos donos de uma produtora ligada as campanhas eleitorais do PSDB), que dizia o seguinte logo no primeiro parágrafo:

"Com sua licença, vou usar este espaço para fazer um apelo para você que mora no Brasil, não importa onde: vacine-se contra a febre amarela! Não deixe para amanhã, depois, semana que vem... Vacine-se logo! "

E depois de alguns parágrafos em que não esclarece nada, termina assim:

"O fantasma da febre amarela, portanto, paira sobre o país como um alerta num momento crucial, para que a saúde e a educação sejam preservadas antes de tudo o mais. Senão, Lula, o aedes aegypti vem, pica e mata sabe-se lá quantos neste ano --e nos seguintes. "

ABSURDO! ESTÃO USANDO A SAÚDE PÚBLICA PARA POLITICAGEM BARATA!

Alguns esclarecimentos:

Colunistas falam de epidemia com uma facilidade incrível para quem não entende o que quer dizer o termo. Epidemia não é o aparecimento de casos de uma doença no jornal. Uma epidemia só se caracteriza quando ocorre um aumento maior que 2x o desvio padrão sobre a incidência média de uma doença nos últimos anos.

Ou seja: Incidência média + 2x desvio padrão.

Não vi até agora nenhum jornal mostrar a incidência da febre amarela nos últimos 10 anos para uma comparação. Repare na média de casos do período FHC e Lula, será por isso que ninguém mostra os números?

1996 - 15 casos
1997 - 3 casos
1998- 34 casos
1999 - 76 casos
2000- 85 casos e 42 mortes
2001 - 41 casos e 22 mortes
2002 - 15 casos e 6 mortes
2003 - 64 casos e 22 mortes - obs: 58 dos casos diagnosticados na região sudeste, principalmente MG
2004 - 5 casos e 3 mortes
2005 - 3 casos e 3 mortes
2006 - 2 casos e 2 mortes
2007 - 6 casos e 5 mortes
(fonte : Min.Saúde)

Todos esses casos são da forma de transmissão em área silvestre da febre amarela. Desde a década de 1940 que não há relatos da transmissão urbana da febre amarela. Veja bem, transmissão em zona urbana é diferente de diagnóstico em zona urbana. A forma silvestre é endêmica pincipalmente nas regiões Norte e Centro-Oeste e se comporta de forma cíclica, com surtos a cada 5-7 anos

A transmissão em área silvestre é feita pelo mosquito do género Haemagogus, e se dá através, principalmente, de macacos infectados para humanos não imunizados por vacina. A forma urbana é transmitida do homem para homem através do Aedes aegypti, o mesmo da dengue. O risco de retorno da forma urbana não é novo, e existe desde a década de 80 quando houve a reintrodução do Aedes aegypti no Brasil.

Até o momento (15/01/08), apesar de toda histeria, apenas 2 casos foram comprovadamente de febre amarela este ano. E todos contraídos em áreas silvestres. Ou seja, nada de anormal.

Feitos os esclarecimentos, vamos aos comentários sobre a cobertura da mídia.

1- Estão noticiando morte de macacos, supostamente com febre amarela, como se isso fosse um sinal de que a doença está fora de controle. O pior, vários dos macacos noticiados tiveram exame negativo para febre amarela. Ou seja, estão noticiando apenas morte de macacos.
2- Estão noticiando as mortes por febre amarela como um fato novo do governo Lula, como se ninguém morresse da doença nos anos anteriores. Estão confundindo a ausência de casos urbanos com ausência de casos em geral.
3- E o mais grave, estão criando pânico na população e levando a uma corrida desnecessária e prejudicial aos postos de vacinação. Os comentários dos leitores nas edições da internet do Globo por exemplo, são assustadores. A mídia informa mal os leitores, e deixa que o boca-a-boca crie teorias da conspiração contra o governo.

A vacina da febre amarela não é vitamina C. Ela é feita com vírus vivo atenuado e por isso apresenta contra-indicações e efeitos colaterais. Quem não mora em área de risco ou não vai viajar para uma, não precisa e não deve receber a vacina. Além de tudo, ainda há o risco de falta da vacina para quem precisa.

Contra- indicações

Crianças com 4 meses ou menos de idade, devido ao risco de encefalite viral (contra-indicação absoluta).
Gestantes, em razão de um possível risco de infecção para o feto.
Pessoas com imunodeficiência resultante de doenças ou de terapêutica: infecção pelo HIV, neoplasias em geral (incluindo leucemias e linfomas ), Aids, uso de medicações ou tratamento imunossupressores (corticóides, metotrexate, quimioterapia, radioterapia), disfunção do timo (retirada cirúrgica ou doenças como miastenia gravis, síndrome de DiGeorge ou timoma).
Pessoas que tenham alergia a ovos, uma vez que a vacina é preparada em ovos embrionados.
Pessoas com alergia a eritromicina, um antibiótico que faz parte da composição da vacina.
Pessoas com alergia a gelatina, que faz parte da composição da vacina.
Pessoas com antecedentes de reação alérgica a dose prévia da vacina anti-amarílica.
Efeitos colaterais.

Reação alérgica grave (anafilática) ocorre em aproximadamente 1 em cada 131.000 doses aplicadas.
Reações no sistema nervoso central (encefalite) – cerca de 1 caso para cada 150.000 - 250.000 doses.
Comprometimento de múltiplos órgãos com o vírus da febre amarela vacinal - aproximadamente 1 caso para cada 200.000 - 300.000 doses. Acima de 60 anos a incidência desta complicação é maior (cerca de 1 caso para cada 40.000 - 50.000 doses). Mais da metade dos indivíduos com febre amarela vacinal evoluem para o óbito.

Se na remota hipótese de alguém morrer por tomar desnecessariamente a vacina a Sra.Eliane Cantanhêde vai se responsabilizar? Ou vai culpar o governo de novo?

Em vez de focar nos inúmeros problemas reais do nosso sistema de saúde, a imprensa prefere criar factóides que em nada ajudam a população.


quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Nós e eles - as esquinas dos conflitos

Lembro que fui apresentado ao Pink Floyd na adolescência, me disseram que era coisa passageira e que o rock n´roll na minha vida iria durar até "a idade da razão" (plagiando Sartre).A vontade de escutar o som dos caras, conhecer as letras e ainda discutir horas e horas sobre os enigmas pink floydianos não passou, a disputa pelo conhecimento máximo talvez sim, hoje em dia escuto bem menos, mas sempre fico surpreso quando em dias de chuva e sol coloco o som para rolar.Ainda tenho vontade de escutar todos os seus discos no mesmo dia, ou quase todos, pois sempre aparece alguém com um CD,DVD, Fita, Demo, B-side. disco solo de cada um dos caras e por aí vai.Em homenagem a banda de rock que me apresentou " Nós e eles" e as temáticas sórdidas de controle social, político,financeiro, as relações entre as esquinas das guerras no mundo e as crises psicológicas do indivíduo em guerra com ele mesmo, a mesma banda capaz de virar hit com uma música que berra : Hei Teacher leave the kids alone!" e ao mesmo tempo convencer os fãs que seu melhor som é uma música de 23 minutos reproduzindo ecos sintetizados, ou um solo de bateria interminável, quem sabe um blues cantado por uma cadela, isso e mais merecem minha referência e reverência. Pink Floyd faz até hoje pessoas no mundo todo assistir filmes procurando relações com suas músicas e ainda tem um dos melhores filmes de todos os tempos dirigido por Alan Parker.E nem quero falar da qualidade dos seus shows, das influências que eles jogaram em todos os segmentos do rock, das próprias relações com outros estilos musicais, seja com Roger, Syd,sem eles ou com alguns deles solo...Obrigado por começar a colocar na minha vida a concepção de que existem mais entre nós e eles, mas que também podemos ser eles em determinados momentos...Pink Floyd - Us And Them (Waters, Wright)
Us, and them
And after all we're only ordinary men.
Me, and you.
God only knows it's not what we would choose to do.
Forward he cried from the rear
and the front rank died.
And the general sat and the lines on the map
moved from side to side.
Black and blue
And who knows which is which and who is who.
Up and down.
And in the end it's only round and round... and round
Haven't you heard it's a battle of words
The poster bearer cried.
Listen son, said the man with the gun
There's room for you inside.
 
"I mean, they're not gunna kill ya, so if you give 'em
a quick short,
sharp, shock, they won't do it again. Dig it? I mean
he get off
lightly, 'cos I would've given him a thrashing - I
only hit him once!
It was only a difference of opinion, but really...I
mean good manners
don't cost nothing do they, eh?"
 
Down and out
It can't be helped but there's a lot of it about.
With, without.
And who'll deny it's what the fighting's all about?
Out of the way, it's a busy day
I've got things on my mind.
For want of the price of a tea and a slice
The old man died.
.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Energia - Cá com meus botões e suas casas.


Relacionar as ações com imprevistos, para meus botões e casas sempre foram momentos de esquinas. As vezes que não podemos quantificar toda a instabilidade insurrecto desses lugarejos. Alguns instantes podem pormenorizar o drama através de qualificações ou reflexões. Essa semana em contato com uma rotação diferenciada em se analisar as fissuras do mundo deparei novamente com o dilema ações x imprevistos. Lançar o olhar através de uma futurologia impalpável, acreditando na ferocidade humana para sua própria redenção. Quantos riscos podemos nos submeter? Lembro que de certa feita jogaram água benta na minha cabeça e disseram que eu estava livre do pecado original, mas outros vieram, tantos pecados poucas absolvições. As casas da camisa largos e puídos, os botões tantas vezes re-alinhavados e mal-tratados. Acordei hoje em vez de poesia pensava em energia, nossa esquina do dia aponta: “Com mais desenvolvimento teremos menos energia. Com menos energia encontramos mais colapsos de produção. Com mais colapso de produção revistaremos menos conceitos desenvolvimento. Com mais desenvolvimento...”Simplista mas centrifugamente necessários?

Brasil terá de administrar um cenário energético complicado em 2008 e pode ter problemas de suprimento no médio prazo caso cresça mais de 5% ao ano, alerta a agência de avaliação de risco Fitch Ratings no seu relatório sobre as perspectivas de energia para a América Latina neste ano.

Por, Carolina Glycerio,Da BBC Brasil em São Paulo

"O robusto crescimento da demanda de energia gera preocupações sobre o suprimento se esse crescimento passar de 5% ao ano", diz o relatório da Fitch, na parte dedicada ao Brasil.

"O principal desafio do governo para os próximos cinco anos é tornar viável a expansão da matriz energética", acrescenta.

A agência prevê um ano difícil para toda a região, por causa da conjunção de três fatores: crescimento da demanda, escassez de gás e aumento dos preços dos hidrocarbonetos.

"Este ano pode ser mais um desafio para as companhias de geração de energia que lutam para manter o suprimento diante do aumento da demanda na região", afirma a agência. "Em particular, o ano será desafiador no Cone Sul, em meio à crise do gás natural."

'Progressista'

O Brasil, no entanto, aparece no relatório entre os países mais bem preparados para enfrentar os problemas que virão por causa da sua estrutura regulatória, considerada "atraente para os investidores".

"Em geral, a estrutura do Brasil é progressista em comparação com os outros países da região", disse Gianna Bern, diretora da Fitch para a América Latina. "No entanto, a crise do gás vai afetar o Brasil também, e os preços de outras fontes de energia estão aumentando."

Bern também faz a ressalva de que a situação do Brasil pode ser considerada favorável em relação ao resto da região desde que o país possa contar com as suas hidrelétricas do Sudeste - prejudicadas por causa da escassez de chuvas.

São citados como positivos no relatório o fato de o país, assim como Colômbia e Chile, permitir que companhias repassem o aumento dos custos de geração de energia aos consumidores e o de as tarifas "refletirem aumentos nas estruturas de custo".

A Argentina é o destaque negativo no relatório por fazer justamente o contrário, fixar os preços, e assim supostamente afastar potenciais investidores.

"O melhor exemplo (de países que não permitem o repasse do aumento de custos aos consumidores) é a Argentina, onde as tarifas congeladas e a intervenção do governo nas exportações de gás natural desestimularam investimentos no setor."

Segundo o relatório, enquanto houve "muito pouco investimento" no setor elétrico argentino de fora do país, no Brasil as regras do setor estimularam "uma série de projetos públicos e privados de geração de energia".

Gás

No curto prazo, porém, o Brasil continuará a depender do gás para mover as termelétricas, pelo menos até que o nível dos reservatórios das hidrelétricas melhore.

Para Ricardo Carvalho, diretor-sênior de ratings corporativos da Fitch Ratings no Brasil, até que isso aconteça, o governo deveria restringir o uso do gás nos veículos a fim de preservar os reservatórios.

"Flexibilizar o gás é uma medida muito perigosa porque já tem um desequilíbrio entre demanda e oferta. Você continuar utilizando o gás para outra fonte que não seja a geração de energia acaba por maximizar os riscos", diz Carvalho. "É uma medida impopular, resta ver o quanto o governo vai esperar por São Pedro."

Segundo o relatório da Fitch, a tendência pelo menos no curto prazo é que a demanda de gás natural continue a ultrapassar a oferta regional.

"Seria uma posição pró-ativa não esperar a luz vermelha acender para tomar outras decisões porque, daí sim, elas serão mais drásticas e as conseqüências serão maiores. A gente espera que o governo administre de forma mais intensa os sinais que estão sendo dados. Eles são fortes e preocupantes."

Se não fizer isso, alerta Carvalho, o Brasil corre o risco de ter de passar por um racionamento mais adiante e ver frustradas as expectativas de crescimento para 2008.

"O governo está apostando todas as fichas em São Pedro, e as variáveis que potencializam o risco (baixo nível dos reservatórios, escassez de gás e aumento da demanda) estão cada vez mais intensas."

Foto por Eduardo – Recife – Bar Casa dos Banhos. A tranqüilidade energética portuária x o colapso asfaltico portuário

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Esquinas imaginárias

Lembro que certo dia acordei mais cedo do que era habitual, preparei um café, acendi o cigarro e sentei em uma cadeira confortável. Abri um livro antigo que teimava em permanecer acumulando poeira na instante...Passei o olhar e minha pouca atenção por algumas páginas, parei em uma das esquinas escritas...era uma linha imaginária, um susto previsível, uma lâmpada iluminado um coqueiro, o coqueiro que teimava querer ser mangueira, mesmo sem conseguir florescer o mesmo fruto, ou possibilitar a mesma sombra...Pensava em V de Moraes e em P de Neruda: " Boa noite, Pablo Neruda. Neste instante . Ouvi cantar o primeiro pássaro da primavera. E pensei em ti. O primeiro pássaro da primavera. Cantou, parece incrível. Mas ainda existem pássaros. Que cantam em noites de primavera. Estou sozinho e tudo é silêncio. Meus filhos. Foram dormir. Minha revolta, provisoriamente. Também foi dormir. A verdade, poeta. É que te tenho presente, a cerveja está bem gelada. E o pior ainda está por vir. Hoje pensei em Lorca. Vi-o nitidamente. Caminhando entre os soldados. Seus olhos. Me olhavam entre dois canos de fuzis, desfigurados. Hoje soube que teve medo, teve medo de morrer. Teve medo, mas não dizia nada. Eu também tenho medo, meu irmão. Quem, em verdade. Com tanto amor à vida não tem medo?Lorca. Amava a vida, era um pássaro. Lembro o dia. Em que atirei num passarinho, eu era menino. Vi-o. Por entre a mira da espingarda, depois tombou ensanguentado. Debrucei-me sobre ele, agonizava, tinha medo. Mas também não se queixava. É estranho, poeta, é tudo imensamente estranho. Esta noite, esta presença tua e esta certeza. De que a morte ronda. Gabriela, tua velha mestra. Partiu, foi para o México. Quando a deixei no avião. Olhou-me com ternura e muita paz. Depois beijou-me o rosto e disse: NO SÉ SI NOS VEREMOS MÁS. Agora, no entanto, a noite, amigo. Se estende sobre nós, plantada de lírios. Faiscantes. Lorca morreu. Outros morreão. Talvez tu, talvez eu. O inimigo. Possui fuzis, o que não impede a primavera. De ser saudada pelos pássaros. A ti te atacaram pelas costas. Os vendilhões de tua pátria em forma de faca. Tua pátria em forma de faca, que um dia. Há de se erguer ensanguentada. Do sangue da covardia e da maldade. Ah, que esta é a soma de muitas noites. Poeta amigo...É a noite. De 14 de abril de 1948: dois dias depois. De sufocada a revolução da Colômbia. Mais uma. Que foi sufocada. Quantas serão precisas, Pablo. Quantas retaliações, quantos cadáveres?Serão precisos muitos cadáveres, poeta. Talvez o meu, talvez o teu e até o da mulher amada. O fato de se acordar e se estar vivo. Já não quer dizer nada. Mas é importante resistir. Mesmo com a boca amordaçada. Como Miguel Hernandez. Como Fucjik. Como Hikmet. Como Eisler. Como os humildes mortos ignorados, torturados. Desfibrados a pancada: a grande massa cujos ossos. Ilumina o caminho, o único possível. Dentro da ignomínia e da desgraça. Hoje mais do que nunca o mundo avança. Para uma Aurora ainda aprisionada. Tentemos resgatá-la com poesia. Cada poema valendo uma granada. Como disseste imortalmente um dia. No teu " Canto de amor a Stalingrado". LOS ANGELES , 1948 VINICIUS DE MORAES - EM HISTORIA NATURAL DE PABLO NERUDA : A ELEGIA QUE VEM DE LONGE.