quinta-feira, 30 de julho de 2009

MANIFESTO DA COMPANHIA BRASILEIRA DE CINEMA BARATO





Fonte : Fotosearch.

Fonte da Notícia : Tela Preta (via Multiply)


Os latifundiários do audiovisual brasileiro, que durante anos, ditaram uma formula milionária e excludente, cultivando um sistema que só eles através de mamatas patrocinadas pela maquina governamental, transformaram não só o cinema e televisão, mas sim todo o audiovisual, em um clube fechado onde só os filhos da elite, os abastados podiam freqüentar, vem mudando radicalmente.

Hoje, o audiovisual tendo em vista o novo modelo de plataforma que o mundo desenvolveu, continua aperfeiçoando, e que o Brasil, antenado com essa nova tecnologia, vem desenvolvendo, para que aqueles rejeitados, enjeitados, os filhos dos guetos, das favelas e das periferias, pudessem ter a oportunidade de expor sua visão, através de um novo sistema barato de captação de imagens.

Fazendo com que um movimento de realizadores do audiovisual se unissem para concretizar a COMPANHIA BRASILEIRA DE CINEMA BARATO (CBCB), mais que uma simples produtora, uma realizadora dos anseios populares, que os poderosos, sempre mostraram sob seu domínio e ponto de vista. Vem hoje mostrar que o povo é mais que um simples personagem e sim um realizador de audiovisual de qualidade indiscutível e que se não for superior a dos antigos reis do audiovisual arcaico, da era dos dinossauros, pelo menos mostra uma criatividade a toda prova, de cineastas atores e técnicos escondidos em lugares onde a política audiovisual não descobriu. O CBCB também trabalhara para difundir um audiovisual de qualidade, mas, sem transformar a produção em uma epopéia de milhões.

Onde o produto final, realizado através de meios simples e accessíveis, digitais ou não, para qualquer pessoa que queira transformar suas idéias em produto audiovisual. A distribuição, entrave primordial, para aqueles que cerceiam os realizadores pobres, fazendo também não chegar ao publico obras populares, transforma em trincheira, para quem exibe, continuar exibindo e quem não exibe, continuar no anonimato sem ter visualização de seu trabalho, será quebrado. Através de uma distribuição democrática, popular e livre de acesso fácil, através da internete, cineclubes, bancas de jornais, reembolso postal, camelôs, exibição em escolas, fabricas, presídios, entidades religiosas, ongs, associações, venda direta ao publico, salas de exibições digitais ou em qualquer outro meio, existente ou a ser criado, de acesso fácil, barato e popular. Nossa meta é que, não necessariamente só aqueles que trabalham com audiovisual façam filme, mas sim, qualquer pessoa sendo artista plástico, pintor, escultor, intelectual, professor, artistas, políticos, trabalhadores autônomos, profissionais liberais, médicos, advogados, portadores de necessidades especiais, garis, pedreiros, motoristas, donas de casa, desocupados, crianças, jovens, adultos, idôneos, de qualquer raça, cor, credo, conotação sexual, enfim, que todos possam expressar sem nenhuma censura, pré ou pós definida, de seus anseios, sonhos e reflexões, através da COMPANHIA BRASILEIRA DE CINEMA BARATO.
Não iremos revolucionar, nem mudar o mundo, mas podemos mostrá-lo, através de uma nova ótica.

OS MANDAMENTOS DA CBCB


1 – UM ROTEIRO DE QUALIDADE

2 – NÃO SE PRENDER A FORMULAS PRECONCEBIDAS

3 – CRIATIVIDADE NA CAPTAÇAO DE IMAGENS

4 – FILMAR COM QUALQUER TIPO DE CONSOLE

5 – TODOS SEREM MULTIPLICADORES

6 – NENHUM TEMA SER TABU

7 – TODOS FAZEREM TUDO

8 – PARCERIAS

9 – NÃO ALUGAR EQUIPAMENTO, INVENTAR

10 – DISTRIBUIÇÃO BARATA E POPULAR

Assinam este manifesto:

Marcelo Yuka, Leandro Firmino da Hora, Kátia Lund, Paulo Lins, Cavi Borges, Julio Pecly, Renato Martins, Perfeito Fortuna, Marcio Grafite, Pablo Cunha, Paulo Pons, José Antonio da Silva, Paulo Silva, Carlos Jasmim, Slow, Michel Messer, Mariana Vitarelli, Virginia Corsini, Natalia Lage.

Instituições que apóiam este manifesto:

Cinema Nosso, Cavídeo, Boca de Filme, Cine Guandu, cine clube Mate com Angu, Circo Voador, Fundição Progresso.

domingo, 19 de julho de 2009

19 de julho - dia do futebol.


Foto : Daniel Rabelo



No livro Futebol Ao Sol e À Sombra, Eduardo Galeano traça uma perspectiva entre história, literatura, poesia e óbvio futebol.

" - Como a senhora explicaria a um menino o que é felicidade?
- Não explicaria - respondeu. - Daria uma bola para que jogasse. (Pergunta feita por um jornalista à teóloga alemã Dorothee Sölle.)

Acima do futebol, está a lenda. Uma estranha magia se impõe ao esporte. E o jogo se transforma em saga, desperta paixões, cria mitos, heróis, glórias e tragédias. Exaltado pelas multidões, criou em seu lado sombrio um mundo à parte que envolve poderosíssimos interesses políticos e financeiros.
Mas nada se sobrepõe ao encanto desta "festa pagã". Para captar este fascinante universo de perdas e conquistas, Eduardo Galeano penetrou nas profundezas da história e das histórias que se passam dentro e fora das quatro linhas. Construiu este livro como um verdadeiro monumento à paixão,. Através de sua prosa consagrada, tudo tem sabor. Pelé, Di Stéfano, Maradona, Zizinho, Didi, Garrincha, Obdúlio Varella - o carrasco uruguaio de 1950 -, o aranha negra Yashin, Leônidas, Platini, Domingos da Guia, Friedenreich e muitos outros craques são mostrados nos seus momentos de esplendor e desgraça.
Ágil, emotivo, este livro flui prazerosamente. Não é preciso ser um apaixonado pela bola para apreciar esta saga. Basta se apreciar a grande literatura."

Essa introdução ao livro nos coloca diante da abrangência do tema, futebol é coisa de criança, é coisa de adulto, é coisa de todos/as; não consigo me afastar dele por mais que as nuances políticas financeiras e as armações visíveis ponham no fundo da minha rede de mágoas a paixão lúdica por esse esporte desvairado, inconsistente e ao mesmo tempo previsível em seu calendário, pontos, regras, tabelas...

Não consigo pensar o que seria minha vida sem um joguinho de futebol, sem desafiar a própria memória para comentar ou citar jogadas e jogadores que nunca vi jogar, mas que as conversas em botecos e bares me fazem saborear horas de papos e interlocuções imaginárias de um mundo que rola na ginga fácil das palavras, um mundo que rola como uma bola.

Minha paixão pelo Sport já tentei explicar em outras postagens, porém venho nos últimos anos tentando dialogar também academicamente com o futebol, e meu primeiro ensaio, são algumas linhas na minha dissertação, pois é, coloquei futebol na acadêmica, no curso de direito, pode? Não sei se pode ou não, marquei um golzinho, mesmo colocando ou interligando a discussão com a identidade negra no Brasil com o mundo da bola.

Desta forma, minha homenagem ao Futebol, saí das minhas palavras na construção acadêmica que se projeta além ou aquém das nossas pelejas nas quatro linhas, ainda devo uma pesquisa sobre os técnicos negros e dirigentes negros no futebol brasileiro, dominado por jogadores negros, mas que não encontram guarida nos campos institucionais dessa fábrica de imperfeições.

O Estado brasileiro, pensado em uma dinâmica que perpetua as contradições sociais, históricas e culturais, tem desde os seus primórdios, uma dificuldade em aceitar a diversidade, ou ainda pior, se apropria da própria diversidade para negar a existência das diferenças. Os valores singularizados são desqualificados em face de uma constituição identitária nacional que estimulam padrões sociais, culturais e religiosos:

(...) a sociedade brasileira cria mecanismos desfavoráveis ao desenvolvimento de uma identidade articulada em torno de valores positivamente afirmados, não somente para os afro-descendentes, mas para todo e qualquer cidadão, aí incluindo os brancos e indígenas pois, na verdade, trata-se de um problema de constituição da identidade do brasileiro (FERREIRA, 2000, p. 43).

Outros estigmas contra os negros no Brasil são difundidos por questões culturais que habitavam o imaginário popular nos anos de 1950. Como exemplo simbólico, nos gramados de futebol, a derrota do Brasil para o Uruguai, na final da Copa do Mundo de 1950, foi atribuída à participação de jogadores negros como o goleiro Barbosa e o lateral Bigode.

Após a conquista dos gramados mundiais (Copas do Mundo de 1958, 1962 e 1970), o brasileiro – tido enquanto conjunto e não mais segregado racial e socialmente - cria sua auto-imagem através de jogadores negros, e esses sai denominados como bons de ginga, ao mesmo tempo em que se reforça o estereótipo dos/as negros/as enquanto malandros, sambistas e mulatas (fogosas, boas de cama e cartão postal para as aventuras sexuais dos estrangeiros).

Outras imagens que refletem a sua condição econômica, política e social no Estado brasileiro serão amplificadas pela mídia nacional, com o surgimento e difusão das televisões – canais de TV (anos de 1950-1970), assim como nas produções novelísticas, em que passam a ser agregados enquanto símbolos da produção cultural brasileira. Os papéis designados aos/às negros/as eram, invariavelmente, os de empregados domésticos, escravos ou de ameaçadores da ordem pública.

Como salienta Norbert Elias (1994, p.39), o indivíduo em uma sociedade só tem a capacidade de se reconhecer perante ela no momento em que consegue enxergar nas diversas formas de organizações sociais e manifestações culturais, ou seja, no instante em que ele aprende a dizer “nós”.

sábado, 4 de julho de 2009

Burocracia







Weber trabalha com o conceito da burocracia enquanto personificação impessoal do Estado no seu âmbito de atuação cotidiana.

Uma das características apontadas por Weber é a qual esta será sempre previsível, ou seja, na funcionabilidade do Estado, as normas confluem no sentido de aparelhar um sistema que funcionaria com base na meritocracia.

O Estado capitalista, principalmente o brasileiro, fundado em areias movediças, seria um excelente campo de estudo para as contradições, ou disfunções apontadas por Weber enquanto debilidades do Estado em prover suas ações quando provocadas por indíviduos, entre essas disfunções acreditamos que uma pesquisa sobre os seguintes pontos seria opoturno enquanto recurso metodológico, e não arcabouço teórico, destacam-se :
as normas passam de meios para os fins;
excesso de formalismo e papelatório;
resistência a mudanças;
superconformidade às rotinas;
exibição de poderes de autoridade;

O nosso legado sociológico e histórico desenvolve com maestria algumas análises nesse campo, principalmente autores/as de vanguarda como Damatta, Roberto Aguiar, José Murilo, e outros.

No campo em qual estou inserido - o direito - pouco se estuda essas viabilidades de aplicabilidade normativa no sentido clássico weberiano ou ainda enquanto colaboração para um dissecamento das funções do Estado e as relações de poder.

Muitos militantes e pesquisadores, encaram Weber - inclusive eu...rs - enquanto um legitimador do Estado capitalista liberal, porém nos últimos anos, venho enxergando que não se pode desprezar alguns campos de análises para a formulação de teorias críticas seja no campo do direito ou em outras áreas do conhecimento.

As reinvidicações dentro do atual sistema "democrático" brasileiro, passa por uma leitura acurada da máquina estatal, seja no intuito de transformação ou negação, de toda forma sinto particularmente que conhecemos as vezes pouco as questões que imperiosamente se apresentam contrárias as aspirações mais radicais no campo contra-hegemônico.

Ainda escorregamos com facilidade em algumas dinâmicas, por não conhecer os meandros das regras burocráticas, e o pouco que conhecemos assusta a forma como foram montadas tantas "caixinhas", leis e normas. Mafalda está com a razão?Weber está com a razão? Afinal de contas o que é razão?