domingo, 26 de abril de 2009

Hey, teacher : leave those kids alone














A FORMAÇÃO JURÍDICA E O (RE)PENSAR DO ENSINO JURÍDICO - Apontamentos...

O paradigma dominante no ensino jurídico brasileiro é o positivismo jurídico (KIPPER, 2001). A procura desenfreada de estudantes pelo curso de Direito e a explosão de cursos particulares nessa área, não está ligada apenas ao interesse pela área jurídica e suas carreiras mais clássicas, tais como Juiz(a), Promotor(a) de (pois é tem gente ainda que quer ser professor).
A condição de um status social do curso de Direito, que, outrora era o coroamento das famílias nas quais se destacavam o filho como Doutor, e, constatado por Furman, enquanto , componentes nem tão coerentes como o estereotipo do letrado, culto, influente, “ideal das famílias da oligarquia e sonho das classes médias (...) uma espécie de encarregado pelo Estado e pelas questões públicas (2005), está em franca derrocada.
As características nos dias atuais não foram profundamente alteradas, pois a busca pelo bacharelado em direito é uma opção em ascender à carreira pública através de concursos em diversas áreas da administração estatal.

Os frutos do titulo de bacharel em direito são valorados em relação à empregabilidade, segurança pessoal, estabilidade financeira, pouco importando a importância do cargo, o zelo ético na profissão, o conhecimento adequado da área pleiteada.

Parece que as razões que movem milhares de estudantes e milhares de reais anualmente são a remuneração do cargo ocupado ou a possibilidade de ficar por um curto período em uma função enquanto se aguarda o próximo edital.

A maioria dos estudantes do Curso de Direito, aguarda ansiosamente para ver e aprender/decorar o “Direito de Verdade”, ou seja, o primeiro ano do Curso, ou períodos iniciais, que são apenas para disciplinas abstratas, que quando muito servem para integrar a turma, tirar notas máximas, e por fim, ao sair da graduação, ter a certeza de que esses professores não sabiam de nada de “Direito”, o termo recorrente colocado às disciplinas iniciais do curso é o apelido “tamborete”.

As disciplinas fundamentais ficam relegadas a um segundo plano, tais como a sociologia, filosofia, metodologia do estudo, direito constitucional, introdução do estudo do direito e a própria disciplina de direitos humanos. Alertamos também, para os reducionistas, que não é uma mudança na ordem que irá mudar o produto final, mas uma alternância e re-significação da concepção do que é aprender Direito, como ilustra Souza Júnior: “direito que se aprende errado, se ensina (concretiza-se) de forma errada”.

Os/as alunos/as que procuram no Curso de Direito uma formação mais profunda, crítico-reflexiva, dividem o espaço com outros estudantes que entram na faculdade aguardando os concursos, ou aqueles que iniciam o curso atuando em estágios nos escritórios de advocacia renomados, porém todos concordam ao apontar que: o ensino jurídico está distante da realidade social, a reflexão acadêmica não é transmitida, a única possibilidade de ver o mundo real é através da extensão, as práticas jurídicas mais avançadas em termos da própria dogmática são pouco valorizadas, e a teoria dos manuais de direito são insuficientes, entre outras deficiências estruturais e pedagógicas.

Nesse último quesito, em geral os(as) professores(as) de Direito, assim como afirma GIL (apud Furman) não atuam nas salas de aula em sua maioria sob orientação pedagógica, apenas reproduzem as formas e técnicas das quais foram ouvintes na sua graduação:"(...) os [demais] professores que lecionam nos cursos universitários, na maioria dos casos, não passaram por qualquer processo sistemático de formação pedagógica".

Apontar a necessidade do ensino jurídico, pautada na relação com os princípios da educação em direitos humanos, se faz primordial por incentivar a vontade de aprender, não apenas verificar e denunciar as lacunas do dogmatismo jurídico, mas saber preenchê-las, quantificá-las e qualificá-las.

Compor essas perspectivas com novas experiências, na qual entre as variações apresentadas acima, também constem o erro, a avaliação dialógica, a consideração de alternativas não lineares, que vinculem práticas pedagógicas dinâmicas e reflexivas nos espaços de construção de uma perspectiva crítico-reflexivo, mesmo não superando totalmente o dogmatismo jurídico, deverá colocar frente à frente as possibilidades de escolhas na formação continuada dos estudantes e dos professores.

Cabe às instituições, docentes e discentes buscar uma relação mais equilibrada entre as perspectivas abertas pela vida uinversitária, também é dever da sociedade questionar qual o grau de compromisso entre o ensino jurídico e a realidade social, as mundaças não ocorrerão a partir de dentro das faculdades de direito, tão pouco apenas por fora dos muros universitários constuídos por pequenos tijolos do cotidiano, é um processo lento, gradual e com repercussão concreta a ser avaliada no decorrer de muitos anos.

ps. Batendo os martelos nas mesmas cabeças...

domingo, 5 de abril de 2009

Ambos - Lantes











Foto do http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/foto/0,,18923425-EX,00.jpg

19:00 horas de mais uma terça-feira na qual eu me aproximava da Rodoviária para o ritual de partidas rumo à cidade de Serra Talhada. Meu celular de forma inquieta começa a tocar o hino do Sport, na mesma hora com essa nova relação toque-música-pessoas sabia que algum amigo de Pernambuco estava ligando.

Atendi o celular e Gustavo começou a dar umas coordenadas para que eu pegasse um ônibus que não fosse pelo Derby, mas pela Caxangá ou direto para o TIP (para quem não conhece a sigla, Terminal Integrado de Passageiros, porque Recife não pode ter simplesmente uma Rodoviária ou pelo fato de ser algo tão distante da cidade que justifica um nome diferenciado, enfim...).

Narrava Gustavo que uma revolução (exageros à parte) tinha começado em Recife e naquele momento existia em uma das principais vias da cidade e nas suas vias secundárias, um engarrafamento que estava durando praticamente a tarde toda e entrando pela noite.

O motivo central era o fechamento da ponte que liga Recife aos Bairros do Pina e Boa Viagem, também uma das principais rotas para o Aeroporto, Setúbal, Piedade e Candeias (para quem vem do Centro), quem tinha fechado a ponte? Os ambulantes ou mercadores informais da praia de Boa Viagem.

Marx errou de novo, gargalhei ao telefone...Também erramos em não apostar no potencial reinvindicatório desse grupo social, afinal de contas geralmente as demandas que causam pânico na classe média e nos ricos, são proporcionadas por grupos ligados ao movimento no campo (MST e outros) e na cidade especificamente os sem-teto (perdeu o hífen ou não?Bem isso é outra questão...rs).

Fiquei imaginando como seria o pensamento naquele momento de alguém engarrafado no carro por 02, 03 ou 04 horas? Ar-condicionado ligado, celular com a bateria quase no fim, aquele mar de automóveis e pensamento não conformado com a causa do atraso no jantar ou ida no shopping center.

De alguma forma ele pensava, como encarar no próximo final de semana Dona Maria do caldinho, Seu João do Bronzeador, Dona Clara da Cerveja e do Caranguejo (esse aí perdeu o trema, eu acho...rs),pessoas que pareciam tão dóceis, de uma hora para outra causavam um dano tão grande a cidade que poderiam ser comparados com os "marginais" dos sem-terra (além de não sair a Reforma Agrária será que perderão o hífen?Ou na realidade nunca tiveram o hífen?).

Essas figuras bloquearam a ida para casa das famílias de Boa Viagem,o desavisado com seu pensamento sequer lembra que essas pessoas na informalidade durante décadas proporcionaram conforto,pois acordam geralmente às 03:00 ou 04:00 da matina para preparar as carroças, arrastam o peso em carros velhos ou nos braços, cruzando diariamente as pontes, ruas de uma cidade que aos poucos acorda, perto de 17:00 ou 18:00 horas com os serviços prestados retornam para casa, onde o dia ainda não acabou, outros que vendem picolés, bronzeadores, protetores,ostras, camarão, cd´s e outras coisas também tem suas ritualidades que não são vistas.

No mesmo instante o mesmo cara engarrafado, iria romper minha narrativa com um brado: Pera ía!De forma abusivo, afinal de contas uma cerva custando R$5,00 e a cadeira R$3,00 é um assalto! A falta de regulação faz com que a gente não saiba quem é gente boa ou ruim...Calma lá - respondo- e porque você não levou durante anos suas cervejas, cadeiras e afins para praia morando a poucas quadras dela? Eu não sou farofeiro diria a figura, moro em Boa Viagem.

Cheguei em Recife por volta das 21:00 horas, não tinha mais engarrafados(estão proibidas na praia as cervejas em garrafa, ainda tomei algumas em Janeiro e poderei dizer para meus descentendes: Aqui vendia até cerveja em garrafa, e elas faziam montes que às vezes a maré teimava em levar, corríamos procurando, contando e reclamendo dos cascos, era isso antes de chegar o shopping praia ltda com Mc Donalds e afins, era assim o final de semana).

Gutavo me contou que após o cerco da polícia militar e da guarda municipal eles foram "controlados" e agora em comissão aguardavam uma reunião com secretários, Marx acertou...O trânsito com sua forma caótica de fluir em Recife tomou seu prumo, o cara engarrafado perdeu o Jornal Nacional e o começo da novela...

De toda forma não deixei durante a viagem de criar alguns rascunhos de idéias soltas que agora compartilho ou será que já compartilhei?

Ambulantes em ambulâncias.
Ambulantes em riste na ponte.
Ambulantes pernambucanos perambulando pelo pina.
Ambulantes confiantes, confinando e confinados.
Ambulantes e o tráfego.
Ambulantes e o tráfico.
Ambulantes da boniteza protegida.
Ambulantes da livre concorrência.
Ambulantes ritmados.
Ambulantes afastados da formalidade.
Ambulantes informais sindicalizados.
Ambulantes disfarçados.
Ambulantes enfezados.
Ambulantes com fé e famintos.
Ambulantes em suas barricadas vendendo e comprando jornais.
Ambulantes, caminhantes, transeuntes, pedestres, carroceiros, mercadores, burgos da idade média na praia da pós-modernidade, na onda da ativação, atravessando o grito e o choque de um atraso repentino dissipado na memória automobilística da cidade moralmente consternada do povo invísivel que teve seu dia de cidadão.