quarta-feira, 27 de outubro de 2010

O Voto em Dilma é oPTar – O Ringue e O(s) Espaço(s).

O Voto em Dilma é oPTar – O Ringue e O(s) Espaço(s).

Por Eduardo F. de Araújo

“é lícito dizer que o futuro são muitos; e resultarão de arranjos diferentes, segundo nosso grau de consciência, entre o reino das possibilidades e o reino da vontade. É assim que iniciativas serão articuladas e obstáculos serão superados, permitindo contrariar a força das estruturas dominantes, sejam elas presentes ou herdadas”. Milton Santos.

Algumas questões povoam nos últimos dias as redes sociais, reuniões de grupos políticos, mesas de bares, mídia nacional (também contra-hegemônica) e bastidores partidários, dentro dessas temáticas aparecem discussões sobre a questão de gênero, orientação sexual, religiosidade, Estado Laico, modelo de desenvolvimento econômico, privatizações, corrupção, baixarias eleitorais, conquistas sociais, cooptação pelo Estado, pragmatismo eleitoral, projeto popular, correlação de forças, messianismo eleitoreiro, (re)alinhamento progressista, recrudescimento de posturas retrogradas e conservadoras, entre outros assuntos tão caros quanto estes a democracia e ao projeto de nação em conturbada construção.

Até o momento, duas análises despertaram minha atenção, a primeira provocada pelo Professor e Historiador Durval Muniz, texto intitulado “Dois Projetos Radicalmente Diferentes” divulgado pelo Blog do GT Racismo Ambiental em 17 de outubro de 2010. Em síntese, o texto não apresenta os programas políticos enquanto totalmente opostos, mas, RADICALMENTE opostos na sua raiz, no seu nascedouro e nas dimensões políticas, econômicas e sociais que permitem ou não uma articulação e compreensão das forças sociais que no campo das estruturas constituem paradigmas iniciais de rompimento com velhos mecanismos de controle, opressão e alienação; considera o autor, que as novas dimensões e problematizações das funções do Estado, do papel da economia, da academia, da sociedade e dos partidos políticos são constituídos e disputados em vários processos concorrentes, dialéticos e não lineares.

A segunda percepção, não advém de textos, debates na televisão, propaganda eleitoral, manifestos, cartas, apoio de juristas, defesa dos reitores da Universidade Pública, representações de classe, organizações não-governamentais ou de outras considerações materiais trazidas em prol da candidatura Dilma. Também não são cristalizados em dados estatísticos sociais e econômicos, visto que, esses dados são irrefutáveis quando comparam FHC/SERRA versus LULA/DILMA, tais elementos compõem no momento eleitoral as nossas bagagens e argumentos para a defesa do voto em Dilma “para o Brasil seguir mudando”, o que seria suficiente para a opção entre as legendas e/ou candidatos.

Essa segunda perspectiva decorre diretamente da relação do tempo vivido pela recém democracia brasileira e as condições históricas de superação das contradições estruturais, “De um lado esse carnaval, do outro a fome total...”. Sobre estes processos é que iremos aprofundar algumas análises no Ringue e no(s) Espaço(s).

O Ringue

Do lado direito do ringue eleitoral, temos o PSDB, o DEM, a Rede GLOBO, a BAND, a Revista VEJA, grupos religiosos conservadores, empresariado internacional do capital especulativo, agronegócio, bancada ruralista, privatistas e personalidades do gabarito de Reinaldo Azevedo, Agripino Maia, Arnaldo Jabor e outros, os quais apenas recebem a denominação sutil de liberais da direita.

Ainda deste lado do ringue, e para além do ringue, na torcida ferrenha, em dimensão mais à direita, galopa uma ordem discursiva e ativa, em um processo de ressurgimento, que posiciona novamente no cenário político nacional a Tradição, Família e Propriedade (TFP), percebam que a TFP não é a Bancada Ruralista que sofreu nas eleições proporcionais uma derrota quantitativa, mas manteve seu núcleo duro e devem conquistar aliados rapidamente, estamos falando da TPF, o mais perigoso agrupamento coletivo da história do Brasil, perto da TFP, os denominados liberais da direita são crianças em processo de iniciação fascista.

A TFP representa uma posição mais orgânica e viva em nosso país de setores de extrema-direita (sutileza ao dobro), revestida de uma roupagem nacionalista, armamentista e cristã, sob as vestes do discurso de “Ordem e Progresso”, tem sua raiz exponencial na recente história brasileira, na “Marcha da Família com Deus pela Liberdade” de 02 de Abril de 1964, ato político-religioso de salvação da sociedade fadada ao “comunismo” e ao desvirtuamento moral e religioso, naquele momento estava em jogo às reformas de base anunciadas por João Goulart em discurso proferido em 13 de março do mesmo ano, entre elas a Reforma Agrária, o resto da história todos nós sabemos e outros fingem que não lembram.

Do outro lado do ringue, no lado esquerdo, o PT, seus aliados estratégicos, militantes históricos, projeto de governabilidade, dificuldades em formar uma hegemonia política, contradições partidárias – que sempre foram abertas ao público em geral, por ser sem dúvida o partido mais democrático do Brasil - somando-se a isso, figuras que não gostamos de ver no exercício do poder, porém, continuam margeando a política nacional, por fisiologismo e atração instantânea ao convívio do lado vitorioso nos pleitos eleitorais.

De toda sorte, não podemos esquecer que dentro dessa diversidade no canto esquerdo do ringue, existem os movimentos sociais, de diversas origens nas lutas populares e concepções ideológicas, setores de partidos políticos, sindicatos, associações, grupos comunitários e movimentos de base, que não se furtam ao debate das idéias e das alternativas para construção de projetos populares.

Neste mesmo espaço, existem setores das Igrejas Cristãs que compreendem a dimensão histórica das transformações sociais, buscando o diálogo e a opção pelos pobres, religiões de matriz africana, grupos de docentes e discentes vinculados a pesquisa/extensão e ensino críticos, além de grupos/pessoas que não possuem religião, partido, posição visceral com movimentos ou outras articulações coletivas, porém, constituem nesse momento eleitoral posições diretas e consistentes na argumentação de sua opção eleitoral.

Temos ainda neste lado do ringue, jornalistas out sidders com atuação principal na mídia virtual, redes feministas, grupos de combate à homofobia, movimentos de luta pela moradia com serviços prestados com/para a classe trabalhadora, são visíveis grupos e movimentos de apoio e assessoria em defesa da reforma agrária, militantes das concepções do modelo de desenvolvimento rural e ambiental alternativos, educadores/as populares, juristas progressistas, defensores/as de direitos humanos e formadores/as de opinião crítica.

Vários desses atores sociais estão ocupando da centralidade até a esquerda do ringue, todos/as observam a dimensão conjuntural do que está em jogo no 2° turno e saem das suas posições de resfriamento militante político partidário e assumem este lado do ringue para a disputa no dia 31 de outubro.

O(s) Espaço(s).

Para um dos maiores intelectuais do Brasil - o geógrafo Milton Santos - o espaço é: lugar de atuação. Atuação para o mestre é comportamento orientado que se dá em situações e que envolve um esforço ou uma movimentação.

A escolha nesse segundo turno demanda compreensão do espaço e da atuação, exige compromisso histórico com os avanços, com a visualização das contradições, assim como, superação da ingenuidade conciliatória. Transcendem as amarguras pessoais, e assumem uma dimensão propositiva em face das dinâmicas das classes trabalhadoras e dos grupos vulneráveis, com a intenção de superação às múltiplas opressões cotidianas.

Compreende-se que esse espaço/atuação momentâneo eleitoral também serve para os (re)encontros, o olhar maduro e cansado repousa, procura no rosto jovial e renovador sua própria força interna, na via dialógica, as novas expressões amplificam os compromissos e aguçam seu poder de criticidade, em situações como essas os encontros das gerações trazem novas aproximações e pautas políticas que serão norteadoras de novas/velhas batalhas.

De certo, que existe uma posição neutra apresentada por outras dimensões das esquerdas no Brasil, é compreensível. Não cabe nesse instante apontar quais são todas as perspectivas que levam a esse posicionamento, porém, é importante observar que neutralidade é algo que não existe, e do outro lado do ringue não há desistências tão significativas, como citado anteriormente, o que se vislumbra é o aumento do discurso da intolerância às diferenças e a nítida percepção da necessidade de sufocar qualquer foco de transformação ou mudança na centralidade elitista da convivência democrática.

Imprescindível, pois, que sob pena de uma inodora postura perante temas relevantes citados no começo e durante esse texto, assim como, abordado por vários articulistas e comentadores das ruas, praças, missas, salas de aulas e afins, que ao perceber as circunstâncias eleitorais que estamos vivenciando é imprescindível tomar uma posição e proteger suas preferências políticas eleitorais, como alerta Gramsci: "Indiferença é apatia, parasitismo, covardia. Não é vida...Vivo, sou militante. Por isso, detesto quem não toma partido".

Temos a responsabilidade política e crítica (não idealista ou deslumbrada em relação ao processo eleitoral) de sinalizar que não estamos lidando com grupelhos de blogs, revistas ou pessoas que transitam diariamente pelas ruas com seu senso comum, não estamos em uma mesa do bar, almoço do domingo ou em escritórios com amigos/as, colegas e companheiros/as divagando sobre as (im)precisões do destino, o espaço é outro, são outros.

Não é plenária final de encontro sindical, apresentação de tese partidária, disputa em conferências temáticas, não estamos na defesa de uma tese acadêmica, no qual a discussão da intelectualidade (ocidental) transita por diálogos com Freud, Marx, e/ou Foucault, idealizando suas práticas a partir de teorias que não superam ou constituem o real, e em nada nesses últimos momentos eleitorais interessam tanto, é óbvio que todo esse acúmulo neste momento, deve ser revertido em dimensões que advertem, contextualizam, apontam dilemas, criam dimensões e percepções, e no momento atual essa vitalidade deve perceber a expansão/reestruturação das universidades, dos cursos técnicos, dos incentivos para mestrado/doutorado, das bolsas de iniciação científica, a constituição de um orçamento universitário para projetos de extensão, articulações com instituições de ensino/pesquisa de várias partes do mundo, atuação solidária com populações e grupos vulneráveis, entre outras atuações demonstram qual posição devemos tomar para que possamos seguir mudando, atuando nesses espaços, nesse momento é necessário comportamento orientado, envolvimento e esforço.

O Voto em Dilma é oPTar.

Estamos diante da TPF, do DEM e de outros, de agentes que jogam sujo e pesado contra os direitos humanos, atacam projetos de transformação da sociedade e do Estado, estabelecem frentes em bloco contra aberturas de perspectivas da radical democracia; do lado direito do ringue, eles trabalham diariamente em seus gabinetes contra os necessários diálogos entre setores sociais e o Estado, sabotam campanhas salariais, desfilam projetos de lei contra a autonomia dos povos, orquestram repasses orçamentários que inviabilizam a execução pela máquina pública, enfim, mobilizam e utilizam o judiciário para refreamento de conquistas sociais, econômicas, sociais e culturais.

A voracidade por poder dos setores à direita do ringue encontra sua maior expressão na criminalização contínua de movimentos sociais, na defesa de uma conduta social policialesca e de uma naturalização das violações a todas as dimensões da dignidade humana, observem, que o discurso de recrudescimento nunca esteve tão forte, contra isso tudo é votar em Dilma, é oPTar.

Do ponto de vista concreto e cotidiano o período de FHC - PSDB/DEM representaram explosão no número de prisões arbitrárias, esquemas de escutas clandestinas pela Polícia (o Estado brasileiro acabou de ser condenado por uma delas na OEA), números alarmantes de reintegrações de posse (rural e urbana), a posição do Estado em sua governabilidade administrativa estavam todas nas mãos de pessoas e grupos indicadas pela elite econômica e política do país, era visível a omissão, falta de alternativas políticas, técnicas e jurídicas.

Do gabinete da presidência o controle das ações e reflexões dos movimentos sociais eram monitorados, um dos últimos atos de FHC no ano de 2002, foi a promulgação de uma Medida Provisória que colocava a administração pública na impossibilidade de vistoriar e desapropriar terras ocupadas por movimentos sociais, mesmo que a propriedade não cumprissem sua função social, enquanto alternativa, os grupos do campo, iniciaram ocupações em terras produtivas, com a finalidade de sinalizar áreas que não cumpriam os preceitos constitucionais e possibilitassem a negociação sem paralisação dos processos administrativos, o conluio com a mídia fez com que os atos políticos, fossem transformados em espetáculos contra a “Ordem”.

A elite latifundiária com a vitória de Lula (PT) em 2002 e começo do Governo em 2003 rearticularam seus contatos (dentro e fora do Estado) ameaçaram funcionários de carreira, mataram trabalhadores/as rurais, aumentaram as intimidações por meio de estratégias ligadas a uma mídia hegemônica (que não representa a liberdade de imprensa, mas apenas liberdade de empresas), durante esses anos turbulentos, proporcionaram mudanças de última hora em relatórios de CPMIs, entraram com ações diretas de inconstitucionalidade contra direitos quilombolas, federalização dos crimes contra os direitos humanos e promoveram resoluções de conflitos efetuadas por meio de milícias particulares contratadas sob o argumento de "Paz no Campo".
Nesse mesmo período, voltaram à cena política do Brasil as comunidades quilombolas, de Palmares imortal até a Família Silva atual (quilombo urbano em Porto Alegre) que trouxeram um desconforto dessas elites, pois, expõe o enfrentamento diário com nossa história racista, individualista e jesuítica, nos últimos anos, foi (re)apresentado um campo e uma cidade que não estavam com suas relações definidas, quilombolas, sem-terra, sem-teto, assentados/as, terreiros, indígenas e outros grupos tradicionais pulsam nas suas formas de re-articular as pressões contra/com e para o Estado, oPTar por esses grupos em suas vastas dimensões é votar em Dilma.

No INCRA/PE neste mesmo período (2003), durante uma reunião ainda era possível escutar de um latifundiário: "Se nem Geisel que era alguém da minha amizade, me convenceu a ceder terras para o Exército, imagina se para um protelariado, semi-analfabeto, irei permitir isso, mato todos eles e quem estiver apoiando...”.
Nessas terras que nem Geisel tocava, parte do latifúndio foi golpeado, as terras foram desapropriadas dentro do jogo “inventado” para não funcionar, o proletário assinou o decreto e nem o judiciário mais conservador conseguiu escapar de sua própria armadilha legalista, atualmente, vivem centenas de famílias assentadas, caso resolvido, não, falta muita coisa para que as famílias conquistem uma dignidade plena, porém, ninguém esquecerá na história da Reforma Agrária do Brasil o Caso Engenho Prado/PE, principalmente o latifúndio, pois, o nome dado ao Assentamento foi Chico Mendes, por aqui e por lá, do norte ao sul do país, esse nome aponta transformação, indignação e luta contínua, canta o outro Chico (Buarque) na letra da música Assentamento: “Quando eu morrer cansado de guerra, morro de bem com minha terra (...)onde só o vento se semeava outrora, amplidão, nação, sertão sem fim, Manuel, Miguilim, vamos embora...”

Não estamos na Bolívia, Colômbia, Venezuela, Cuba ou EUA, mas tais relações estão em jogo nas eleições e suas encruzilhadas internacionais também, nesse momento, vários companheiros/as e irmãos/as da América Latina e em África aguardam nossa posição interna e quais serão as nossas relações no cenário geopolítico, nessas condições, por autonomia, soberania e diplomacia constituída com base no diálogo, o voto é em Dilma.

É visível que os últimos 08 anos proporcionaram a migração de votos clientelistas, do coronelismo ou da roupagem moderna com práticas antigas que impulsionaram durante vários anos no cenário nacional figuras como Marco Maciel (depois de 40 anos não está em lugar algum da política!), Jarbas Vasconcelos, Heráclito Fortes, Tasso Jereissati, Fernando Collor e outros, pelo menos por enquanto, estão fora dos holofotes, no intuito de escrever e ratificar essas novas histórias, é importante oPTar por Dilma.

O MST, a CONTAG, a CPT, o MAB, a VIA CAMPESINA e até o RAGE AGAINST THE MACHINE, Dalmo Dallari, Marilena Chauí e centenas de juristas, filósofos, sociólogos, Reitores e professore/as das IE´s do Brasil, artistas, pequenos produtores, populares, comerciantes, profissionais da saúde, professores/as da rede pública, sindicatos de classe, redes feministas, movimento BGLTTT, Movimento Negro dentro de sua diversidade, quilombolas, ciganos, a Central Única dos Trabalhadores, entre outros, estão com Dilma e porque não oPTar?

Todos estão equivocados, cooptados, não possuem legitimidade de discutir projetos populares de transformação social? Não é válido querer derrotar no ringue que foi montado pela e para a direita, fazer mais uma vez tremer o chão? Fazer parte desse processo, do espaço em continuidade histórica, política, social e cultural não é válido? Esses grupos, não estão errados ou equivocados, não são todos aliados históricos do PT, entre eles existem divergências profundas, porém, não quedam silentes nos desafios e na luta contra um projeto de país no qual eles não cabem sequer enquanto grupos de reivindicação democrática.

Somos nesse período a mulher Dilma, o contra-projeto tucanesco e dos demos (da TPF), somos as lutas e as bandeiras emancipatórias. Antigamente tinha um slogan/adesivo do PT que era oPTei, é hora novamente de oPTar! Para seguir mudando o Brasil.

domingo, 17 de outubro de 2010

Dois Projetos Radicalmente Diferentes.

Dois Projetos Radicalmente Diferentes
Por racismoambiental, 17/10/2010 21:31
Prof. Dr. Durval Muniz de Albuquerque Júnior*


Estamos num momento decisivo da vida brasileira, onde qualquer omissão pode ser imperdoável. Eu que faço parte da parcela ainda privilegiada de brasileiros que conseguiu concluir um curso superior e fazer uma formação pós-graduada, não ficaria com a consciência tranqüila se não viesse a público, neste momento, com o uso daquilo que sei fazer: refletir, pensar, para tentar contribuir no sentido de dar um mínimo de racionalidade a um processo eleitoral que, muito pela influência de determinados setores da mídia, mas infelizmente também com a participação decisiva de candidaturas como a de José Serra e Marina Silva, descamba para se tornar uma discussão obscurantista, rasteira, mistificadora e preconceituosa, sobre temas e aspectos nomeados genericamente de “valores”, que interessam de perto aos setores mais conservadores e retrógrados da sociedade brasileira, fazendo ressuscitar dos porões das almas, das mentes e do interior da sociedade forças e subjetividades microfacistas.
Dirijo este texto àqueles que fazem parte como eu desta parcela letrada da sociedade, notadamente, daqueles alojados no interior da Universidade, e que, para minha surpresa e decepção, vêm manifestando a intenção de votar em José Serra no segundo turno das eleições. Como estou escrevendo para pessoas que julgo estar sob o império da racionalidade nem me vou ocupar de rebater os motivos e argumentos apresentados para não se votar em Dilma Rousseff em uma das campanhas mais sórdidas, mais caluniosas, injuriosas e preconceituosas já levadas a efeito no país, com a participação decisiva do candidato Serra e da mídia golpista que o apóia, a mídia que medrou e engordou durante a ditadura militar, campanha só comparável àquela de 1989, que levou ao poder o queridinho das elites brancas da época: o caçador de Marajás, Fernando Collor, (e todos sabem no que resultou aquela aventura amparada em retórica e práticas tão farisaicas, despolitizadoras e moralistas como as que embasam a atual candidatura tucana).

Embora pareça que para estes meus colegas, de estômagos fortes, não causa repugnância e náusea uma candidatura que explora e incentiva o tradicional desapreço e desprezo das elites brasileiras pelos nossos vizinhos da América Latina, pelos africanos e pelos asiáticos (o que fica demonstrado pelos ataques do candidato ao Mercosul, a Unasul, a chefes de Estados de países vizinhos democraticamente eleitos, alguns deles pertencentes a grupos historicamente excluídos naqueles países. Na crítica à política externa do governo Lula mal se disfarçam a xenofobia e o racismo de nossas elites que sempre se julgaram brancas e sempre tiveram os olhos voltados para os Estados Unidos e para a Europa, onde na verdade sempre sonharam em viver; a política externa de FHC, onde o presidente falava inglês e o chanceler como um lacaio tirava os sapatos para passar nas alfândegas dos países desenvolvidos mostra bem isso); uma candidatura que explora o preconceito contra as mulheres, candidatura sexista, machista e misógina, que claramente tenta desqualificar o lugar da mulher na política e que utiliza a velha tática de por em suspeita a sexualidade de toda mulher que ousa desafiar os lugares reservados aos homens (com a conivência de inúmeras mulheres ditas independentes e feministas entronizadas como comentaristas na mídia, como Maitê Proença que chegou a convocar os “machos selvagens” para nos livrarem de Dilma; ressalte-se ainda o silêncio cúmplice de grandes lideranças intelectuais e políticas feministas ligadas ao PSDB, que deixo de nomear por respeito às suas trajetórias, que não deveriam necessariamente votar em Dilma, mas se posicionarem veementemente contra o tipo de campanha que faz o seu partido.

Este silêncio poderá custar caro à muitas conquistas feitas pelas mulheres. Me pergunto como pode ser que intelectuais deste quilate possam estar silenciosas diante do uso aético e mistificador da questão do aborto pelo candidato tucano, será que uma vitória eleitoral compensa a perda de uma reputação construída durante anos na luta das mulheres. Ainda está em tempo de romperem o silêncio!); uma candidatura que explora e acirra o preconceito contra os homossexuais ao espalharem em emails apócrifos e criminosos na internet a suspeita de que Dilma seria lésbica (e qual o problema se fosse, sabemos com que órgãos de seu corpo ela exercerá a presidência); uma candidatura que açula o preconceito contra o pobre e o nordestino, que como sempre são tomados pelas nossas elites de classe média como aqueles ignorantes, que não sabem votar, que votam com a barriga e não com o cérebro, mesmo que estejam votando por defenderem a continuidade do governo que de longe foi o que mais beneficiou estas duas populações (porque votar em defesa do Bolsa Família, do Minha Casa Minha Vida, é menos racional que votar em defesa dos lucros exorbitantes conseguidos pelos beneficiários do processo de privatização, inclusive os grandes grupos de mídia e do banqueiro que aposta sempre no Meu Banco, Minha Vida?); uma candidatura que faz das mentira mais descaradas e das promessas mais fajutas a sua apresentação (toma para si feitos dos outros, copia programas das outras candidaturas, promete fazer o que sempre fez diferente quando esteve no poder).

Claro que não vou perder meu tempo discutindo com vocês, que até agora não vomitaram e ainda continuam convictos do voto em Serra, argumentos de enorme racionalidade para não se votar em Dilma como: ela é um poste, ela matará criancinhas (repaginação sofisticada por Mônica Serra, como costuma ser toda repaginação de quem veste Daslu, a honesta Daslu, de conhecido enunciado anticomunista), ela roubou um banco, ela é assassina, ela vai fechar as igrejas, ela acabará com a liberdade de imprensa e outros argumentos ainda mais sofisticados como: “eu não fui com a cara dela”.

Por respeito a vocês todos que acho não seriam capazes de acreditar nestas baboseiras, passo a tratar de uma única justificativa que me pareceu racional, apresentada para o voto em Serra: o sucesso do governo Lula, que todos admitem, até mesmo o candidato Serra que subiu na sua garupa em plena propaganda eleitoral gratuita, teria se dado por este continuar o modelo de gestão perfeito e vitorioso do príncipe dos sociólogos Fernando Henrique Cardoso (há longo email na internet defendendo este ponto de vista racional e respeitável), embora este tenha sido escondido sistematicamente das campanhas do PSDB desde que deixou a presidência seguido de um sentimento de alívio nacional e já vai tarde na maioria de corações e mentes, até nos de muitos dos que hoje esquecidos ou arrependidos tentam salvar o seu legado e resolvem votar em seu candidato.

Como sou historiador, e este profissional tem como ofício ir ao passado para justamente olharmos o presente de outra perspectiva, vou lançar mão de alguns traços da história do pensamento econômico no Brasil para tentar convencê-los de que no dia 31 de outubro estarão em confronto dois projetos radicalmente diferentes de país, duas maneiras distintas de interpretar e entender a sociedade brasileira, sua história, sua dinâmica econômica e social, formas radicalmente distintas de pensar a inserção do Brasil no capitalismo globalizado, nas relações internacionais, formas distintas de pensar a dinâmica do desenvolvimento e o papel que o Estado e as distintas classes e grupos sociais desempenharão neste processo. E quando digo ser radical é justamente porque, como sabemos, radical é algo que se dá desde as raízes, desde suas matrizes teóricas e políticas. Pretendo mostrar que Serra e Dilma representam projetos bastante distintos para o país, porque PSDB e PT representam formulações teóricas distintas da realidade brasileira. Como estamos diante de dois candidatos que não despertam muitas paixões, talvez possamos ter discussões mais racionais, desde que se esteja disposto a se explicitar o projeto que cada um representa (além de representar sua enorme ambição pessoal, seu projeto de ser Presidente da República, de fazer parte da galeria de nossos Presidentes, sonho que ele já realizou pelo menos na propaganda eleitoral e espero que só lá, Serra representa um projeto de governo que não pode explicitar, que não pode revelar sob pena de não ser eleito, por isso ele protocolou como programa de governo no TSE um discurso, mesmo assim tendo a candidatura deferida: por lá também os amores serristas parecem ter se intensificado, até com trocas de telefonemas amáveis).

Para entendermos o jeito PSDB de governar temos que entender as matrizes teóricas que sustentam suas ações. É inegável que o intelectual orgânico, para usar um conceito caro a Gramsci, deste partido é o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, intelectual respeitado mundialmente. Emir Sader já perguntou perplexo uma vez: o que pensa o Serra? Ninguém sabe, ninguém viu. O hoje elevado a condição de elite das elites, o guia das “massas cheirosas” segundo a Catanhede, que se saiba nunca teria concluído os cursos de graduação que diz ter e sua Tese de Doutorado, da qual voltarei a falar, anda desaparecida da única biblioteca em que está depositada (por que será que o vaidoso Serra nunca traduziu e trouxe a lume sua obra máxima?). Ele passou oito anos no governo FHC, exercendo diferentes cargos, sempre aparecendo na mídia como estando à esquerda no partido, como crítico de Malan, como alguém que criticara o Plano Real, mas jamais escreveu algo sobre isto e no governo permaneceu.

Como gestor de mandatos nunca concluídos, não foi capaz de imaginar uma política pública, um programa de governo que possa se dizer original e criativo, se notabilizando mais por desmontar e destruir o que vinha sendo feito antes, até mesmo pelo seu companheiro de partido Geraldo Alckmin (pensem nisso amigos queridos, se duvidarem de mim, pesquisem sobre o desmonte dos programas sociais e educacionais deixados pela Marta Suplicy na Prefeitura de São Paulo). Não é preciso dizer dos inúmeros prêmios internacionais recebidos por diferentes gestões do Partido dos Trabalhadores em municípios, Estados e agora nos dois governos Lula por imaginar e criar inovadoras políticas públicas (se duvidarem pesquisem, só o Presidente Lula já ganhou até agora mais de duzentos prêmios internacionais, há um site não nacional que se dá o trabalho de arrolá-los todos).

Mas como dizia é no pensamento de FHC que devemos buscar as raízes das propostas pessedebistas para o país. É na Teoria da Dependência, da qual Fernando Henrique foi um de seus formuladores, notadamente na corrente chamada de weberiana, que rivalizava com a chamada corrente marxista encabeçada por Theotônio dos Santos e Ruy Mauro Marini, que devemos buscar o entendimento de como o PSDB vê o país e seu povo, inclusive sua classe empresarial, já que, como sabemos, Cardoso se dedicou a fazer uma sociologia do empresariado brasileiro, de seu comportamento e pensamento.

A Teoria da Dependência surge no início dos anos sessenta, diante da crise crescente apresentado pelo modelo nacional-desenvolvimentista de matriz cepalina que esteve na base da política econômica de governos tão díspares e que a realizaram com ênfases distintas como os governos Vargas, Juscelino Kubsticheck e João Goulart. Quando uma vez na Presidência da República, Fernando Henrique se propôs a enterrar a era Vargas, ele estava realizando o projeto da Teoria da Dependência que criticava algumas formulações básicas do pensamento cepalino e neoclássico, que na versão henriquiana se afastava também das leituras marxistas tanto vindas do pensamento da CEPAL, quanto no interior da própria Teoria da Dependência, propondo assim o desmonte do Estado nacional-desenvolvimentista e populista, fantasmas que são brandidos hoje pelos economistas e “experts” de plantão convocados pela mídia, que estariam sendo reabilitados pelo governo Lula. Em entrevista com Dilma, Miriam Leitão chegou a comparar o que seria o nacional-desenvolvimentismo de Lula com a política econômica da ditadura militar. Como disse sutilmente Dilma: a Leitão sempre ouve o galo cantar mas não sabe aonde.

É inegável que as formulações econômicas, mas também sociais e políticas do governo Lula, têm a sua matriz no pensamento nacional-desenvolvimentista cepalino, mas precisamente no pensamento do maior economista brasileiro, o paraibano Celso Furtado, por quem Lula sempre teve uma admiração quase devocional. Como sabemos Celso Furtado se manteve ativo, produzindo e participando diretamente da vida política brasileira até pouco tempo antes de sua morte. Seu pensamento passou por reformulações e ajustes, mas manteve uma espinha dorsal que, como tentaremos deixar claro é a própria espinha dorsal do projeto que hoje a candidatura Dilma assume e que queremos ver continuar com ela. É preciso ainda chamar atenção para dois aspectos relevantes: o atual Ministro da Fazenda, Guido Mântega, que foi mesmo dentro do PT identificado como um nacional-desenvolvimentista, dedicou seu trabalho de doutorado a estudar o pensamento de Celso Furtado e é preciso lembrar, ainda, que Dilma Rousseff começou a sua militância administrativa no Rio Grande do Sul, ligada a um governo do Partido Democrático Trabalhista, encabeçado por Leonel Brizola, muito próximo das formulações nacional-desenvolvimentistas.

A grita e o arreganho de dentes, sem pejos, da mídia neoliberal no Brasil se deve ao fato desta identificar em Dilma não uma mera continuidade, mas um aprofundamento da visão nacional-desenvolvimentista em seu governo em relação ao governo Lula. A acirrada querela em torno dos destinos da Petrobrás, empresa símbolo das conquistas que o nacional-desenvolvimentismo de inspiração cepalina trouxe para o Brasil, assim como em torno dos destinos dos financiamentos do BNDES, que não podemos esquecer teve como seu formulador e primeiro Presidente Celso Furtado, torna claro que o que está em jogo nestas eleições não é a religiosidade ou não da Dilma, sua sexualidade, sua experiência administrativa ou seus “valores”; são de “outros valores de que se trata” (como a Marina e seus seguidores verdes, pelo menos os sinceros foram cair numa armadilha dessas, como podem manchar uma trajetória de vida e política de anos se colocando a serviço de forças e interesses que parecem desconhecer, tudo por causa de quinze minutos de fama na Rede Globo, que a teria triturado com os mesmos argumentos vis e baixos com que faz com Dilma se ela efetivamente tivesse viabilidade eleitoral).

Pecado mortal de Furtado e de Lula, ambos olharam para o Nordeste, ambos são filhos deste rincão enjeitado do país, onde medra uma das piores elites políticas desta terra, ambos não abriram os olhos no planalto paulista, onde luminares como Otavinho Frias e a família Mesquita distribuem a agenda para o país, em consonância com um partido que nunca lançou uma candidatura que não seja paulista, deixando clara a falta de visão de Brasil que os assaltam, como assaltava à Teoria da Dependência. Formulador da SUDENE e seu primeiro superintendente, Furtado sempre apostou no Estado como indutor de uma política de industrialização capaz produzir o desenvolvimento apesar da dependência externa. Sabemos que desde que FHC aderiu às teses neoliberais, pois estas já estavam em germe em seu pensamento, como deixaremos claro a seguir, a crítica a esta centralidade do Estado, de seu papel como indutor de políticas cambiais, fiscais, de investimento, de distribuição de renda, de combate as desigualdades regionais e sociais, que alavancassem um desenvolvimento endógeno do capitalismo brasileiro, será a pedra de toque do discurso econômico do PSDB, por isso mesmo se aliando a um partido de extrema direita, o antigo PFL, agora DEM, com vagas formulações liberais, um baluarte na luta pelos interesses dos grandes grupos privados nacionais e internacionais em detrimento dos interesses nacionais.

Desmontar o Estado, desmontar as empresas duramente criadas e conquistadas à duras penas com a acumulação de capital realizada pelas políticas nacional-desenvolvimentistas passou a ser a obsessão dos governos do PSDB, tendo em Serra um dos maiores entusiastas, a abrir seu sorriso cheio de gengiva sempre que batia um martelo e entregava o produto de anos de suor dos trabalhadores brasileiros para os capitais nacionais e internacionais, muitos de duvidosas origens, outros sendo agraciados com ajudas vultosas do BNDES para comprarem com dinheiro público e privatizarem o que era público.

Tanto a Teoria da Dependência, quanto a Teoria do Desenvolvimento, elaborada pelos cepalinos, revista e aperfeiçoada por Furtado, concordavam em superar a visão apenas sistêmica e baseada no equilíbrio de fatores da economia neoclássica. Ambos, por vias distintas, vão aliar as reflexões econômica com reflexões sobre as estruturas e relações sociais no país e o papel da política e do Estado na gestão da economia. Podemos dizer que ambas refletem o impacto que representou o pensamento keinesiano para o campo econômico, e sua capacidade de formular as políticas públicas que retiraram os EUA e o restante do mundo da crise sistêmica de 1929. Só que ambas divergem num ponto fulcral, notadamente na versão weberiana encarnada pela obra de Fernando Henrique Cardoso e Enzo Faletto: ambas concordam que o subdesenvolvimento é produto do próprio desenvolvimento do capitalismo, que se dá desigualmente gerando um centro e uma periferia do sistema, que tende a reproduzir subordinadamente a dinâmica que é dada pelas economias centrais e seus modelos. Ambas concordam na possibilidade de haver desenvolvimento mesmo na periferia, de haver desenvolvimento apesar da dependência e da subordinação, mas divergem frontalmente de como isto seria possível.

Nesta divergência estão as raízes das divergências entre as políticas não só econômicas, mas sociais, de relações internacionais, de alianças políticas, de formulação de políticas públicas que estão representadas nas candidaturas Serra e Dilma. Na Tese de Doutorado que defendeu nos EUA, Serra teria criticado a política econômica do governo Allende do qual participara, com Allende já morto e deposto pelo golpe de Estado apoiado pelo governo americano (Serra parece adorar criticar os governos de que participa pois quem conhece a peça sabe de sua megalomania e de sua vaidade infinita, além de que aqui amigos merece uma parada para reflexão: como é que alguém que serviu ao governo Allende vai parar nos EUA e é recebido pelo governo que patrocinou o golpe no Chile; terá sido para Serra escrever o que escreveu?). A crítica se centra não apenas no combate ao pensamento cepalino, esposado ainda por setores presentes no governo chileno, como no combate à Teoria da Dependência em sua versão marxista, que não acreditava ser possível haver desenvolvimento nos países periféricos sem a derrubada revolucionária do capitalismo. Talvez a mistura explosiva do reformismo cepalino com o revolucionarismo daqueles que pensavam diferente de FHC, que sempre descartou a necessidade de uma revolução socialista para que o desenvolvimento se fizesse na periferia do sistema, tenha levado ao desastre da política econômica de Allende atacada na Tese do aspirante a Presidente da República pelo PSDB. Talvez assim possamos entender porque Lula e sua política econômica já foi chamada por grandes luminares da imprensa e da vida parlamentar de bolchevista e até de albanesa (seriam ilários, se não fossem tão primários).

A diferença matricial entre as duas posturas gira em torno da possibilidade de um desenvolvimento capitalista, porque é disso que se trata, não de revolução ou bolchevismo, feito na periferia, colocando como centro do processo a aliança estratégica entre empresariado nacional, Estado e classes trabalhadoras por um lado e os setores externos por outro, aquilo que FHC andou chamando de mexicanização, venezualização, retorno do peronismo (como usa bem e precisamente as categorias nosso sociólogo).

Para as formulações cepalinas lá dos anos cinqüenta, com seu nacionalismo típico da época, as forças externas eram encaradas como obstáculo ao desenvolvimento do país, assim como as forças internas a eles aliadas, como os setores agrário-exportadores. Mesmo reformulando mais tarde estas ideias, Furtado mantém a opinião que o processo de desenvolvimento em países como o Brasil, deve ter como motor as forças econômicas, sociais e políticas nacionais, que saibam inserir o país na economia global, mas tendo seus interesses estratégicos sempre à frente e bem definidos. Para ele o Brasil tinha um enorme potencial de crescimento endogenamente gerado por seus amplos recursos naturais, por já ter internalizado e desenvolvido o processo de industrialização; devendo ampliar bases técnicas, tecnológicas e educacionais próprias, o país já possuía a enorme potencialidade de um grande mercado consumidor de massas, bastando para isto que fossem prioritárias em qualquer política econômica a ênfase em mecanismos distributivos de renda e de redução das desigualdades regionais.

O governo Lula e o sucesso reconhecido mundialmente, até pelos órgãos de imprensa econômica mais conservadores, de sua política econômica, aliada a políticas sociais de distribuição de renda, como o Bolsa Família e a política de valorização do salário mínimo, provou que as teses de Furtado estavam certas. Foi por ter criado um mercado de consumo de massas no Brasil, com a ascensão de parcela significativa da população para as classes médias e a retirada de outras tantas da linha da pobreza absoluta que o Brasil pode enfrentar e vencer rapidamente, com suas próprias forças, a grave crise que vive os países centrais do capitalismo.

A Teoria da Dependência de FHC nunca acreditou na possibilidade de se fazer o desenvolvimento sem que a direção do processo se desse nos próprios países centrais do sistema. Avaliando como sociólogo a mentalidade empresarial brasileira, FHC sempre foi pessimista em relação a esperar das forças nacionais o nosso necessário desenvolvimento. Daí por ser um crítico de primeira hora das ideias cepalinas de ver o elemento externo como obstáculo ao desenvolvimento nacional, que dá imediatamente enorme audiência ao seu discurso no mundo e, por incrível que pareça, entre nossa elite empresarial que parece ter aceitado com gosto e alegria o lugar menor e subalterno que o pensamento da dependência lhes reservava, talvez porque sempre no fundo se sintam não pertencentes ao país, mas estrangeiros em sua própria terra. Estas formulações da Teoria da Dependência mal disfarçam que requentam teses já bastante gastas entre nossas elites letradas da incapacidade de nosso povo para a civilização, para o progresso, para o trabalho livre, para o desenvolvimento. Nas formulações pessedebistas há clara desconfiança em relação ao nosso povo.

Esta é uma diferença crucial entre Dilma e Serra, Dilma acredita que nosso povo se estimulado, se receber crédito, se receber salário, se lhe for dadas condições educacionais e de renda tem condições de construir um país soberano, capaz de traçar suas próprias estratégias, sem que para isso tenha que se fechar ao mundo, mas tendo uma visão alargada do próprio mundo, não vendo nele apenas o Norte, mas enfatizando a diversificação dos mercados e das relações políticas, diplomáticas e culturais, enfatizando as relações Sul-Sul, tornando o Brasil um país capaz de ajudar a impulsionar o desenvolvimento dos seus vizinhos e países assemelhados ou em níveis piores de pobreza e desenvolvimento humano. Mas se muitos luminares do PSDB não querem que se seja solidário nem no interior da nação, como mostram as políticas predatórias, a guerra fiscal movida covardemente pelo Estado mais rico da nação contra os menores Estados, e a implicância histórica serrista com a Zona Franca de Manaus.

Foi a Teoria da Dependência que inspirou já o primeiro programa econômico apresentado por um candidato tucano a concorrer a Presidência da República. O “choque de capitalismo”, prometido por Mário Covas em 1989, foi finalmente realizado por Fernando Collor e continuado nas duas gestões de FHC e se mostrou efetivamente chocante para a sociedade brasileira. A ideia de que seria expondo os setores da economia brasileira à concorrência externa, abrindo a economia para os fluxos de capital internacionais, privatizando os setores estratégicos dominados pelo Estado e os entregando a moderna gestão empresarial internacional, que se faria o país desenvolver-se, se modernizar, palavra mágica para a Teoria da Depedência henriquiana, se torna o centros das políticas econômicas do PSDB. A concorrência externa também afetaria as relações de trabalho e emprego, as modernizaria, levando a ruína à estrutura burocrático-estatal montada pelo nacional-desenvolvimentismo.

Acompanhada de políticas austera de gastos públicos, com a redução do Estado, com a modernização e desburocratização da máquina pública, aliada ao combate a inflação, teríamos garantido o desenvolvimento sustentável, aquele que, como vimos, só dava para sustentar os privilegiados de sempre e aos novos que chegaram como um enxame de vespas no lastro do processo de privatização. Ao final, o brilhante resultado desta política, que dizem que Lula apenas continuou, pinçando aspectos menores da política econômica anterior (política de metas de inflação, de superávit primário, de contingenciamento de recursos do orçamento, política de câmbio flutuante, que se esquecem os serristas que só foi adotada depois do desastre provocado pela política de câmbio fixo e Real supervalorizado do pucboy Gustavo Franco, política que empobreceu grande parte do país, mas gerou superlucros no setores exportadores, principalmente agroexportadores que são eternas viúvas de FHC, como mostra mais uma vez as vitórias serristas em Estados como MT, MS, PR, SC e SP, que se dane a maioria, se a minoria de sempre lucra e muito, está ótimo) que foram mantidos mas subordinados a uma lógica macroeconômica diversa: o país quebrou três vezes, a cada crise econômica em um país lá fora, pois sua economia foi atrelada e completamente exposta as vagas do capital financeiro internacional, fazendo o país acumular uma criminosa dívida em moeda estrangeira, dívida que o governo Lula tratou de reconvertê-la em moeda nacional, garantindo maior soberania sobre as contas internacionais; a quebradeira de setores inteiros da industria nacional, com o desemprego e a falta de esperança sendo tônica de todo o período, (se reconhecemos que outros setores se dinamizaram como o de telefonia com a privatização, o de energia resultou no apagão histórico de FHC, pois o Estado deixou de investir), o arrocho salarial entre o funcionalismo público, a terceirização e precarização dos serviços se ampliaram, piorando a vida dos mais necessitados do Estado, para os da classes médias que não precisam dos serviços públicos ficou o deslumbramento das novas marcas estrangeiras nas vitrines e dos novos modelos de carros importados e celulares, agora todos se sentiam globais, viviam em Miami, a festa para poucos era geral.

As estradas viraram só buracos, com a exceção daquelas privatizadas, como as do Estado de São Paulo, entregues a grupos privados em troca do melhor preço no ato da concessão e não do menor pedágio, tal como feito no governo Lula, estratégia pensada por Dilma, basta comparar os preços dos pedágios do PSDB e do PT e se notará o jeito diferente de governar, pois se governa para outros grupos sociais, não é para as classes médias apenas, mas principalmente para incluir os mais pobres. As estradas de ferro sucateadas, a industria naval e a industria bélica desmontada, a aeroespacial privatizada. Os brasileiros mais pobres começam a se submeter a migrarem até para o Japão em busca dos empregos que a Petrobrás gerava lá ou na Austrália.

Amparada em ampla campanha midiática, que buscava desmoralizar a grande empresa estatal brasileira, o esvaziamento econômico e técnico da Petrobrás preparando para privatizá-la, levou ao trágico acidente do afundamento da Plataforma P-36 (o mesmo governo que não fora capaz de fazer a avançada tecnologia de uma caravela navegar, coisa que os portugueses, tidos em tão baixa conta, já o havia feito desde o século XIV, afundavam uma plataforma e com ela pretendiam afundar a Petrobrás) tal como ocorre agora com os Correios, que sofre inegável campanha de desmoralização, na esperança de que seja a primeira jóia da coroa que Serra uma vez eleito leiloará, para que assim como na privatização da telefonia se candidatem a OESP, a Globopar, a Folha da Manhã, o Grupo Abril, que tantos esforços fazem em eleger seu candidato do coração e do bolso.

Para concluir, que já me estendi além da conta, para que vocês meditem bem sobre o passo que darão ao entregar o país a um homem como José Serra, que a mídia que ele financia com dinheiro da educação, enquanto trata os professores de São Paulo a cacetetes e bombas de gás lacrimogêneo, diz ser o mais competente e preparado, convido vocês a ir ao Youtube e assistir um vídeo de uma entrevista dada por Serra ano passado, quando do auge da crise econômica, ao jornalista serrista e de conhecida história de adesão a extrema direita Boris Casoy, onde Serra aparece indisfarçadamente eufórico, com a possibilidade que a crise viesse acabar com a popularidade do governo Lula e facilitar as coisas para ele este ano. Para que sua vontade pessoal de ser Presidente se efetive, como bem diz Ciro Gomes, Serra pisa até no pescoço da mãe, e é capaz de torcer contra o país; que a população venha sofrer este não é um problema para ele, postura que parece ser de muitos de vocês companheiros que resolveram votar em Serra, desde que suas razões particulares justifiquem um voto que pode significar o retorno à miséria de amplos setores da sociedade brasileira, mas vocês têm este direito, votem e depois durmam o sono dos justos. Mas esta entrevista explicita o desastre que teria sido se ao invés de Lula, de Mantega, das formulações furtadianas que eles representam, fosse o ninho tucano e sua teoria da dependência (dependência ao Norte, diria o pândego e arguto Paulo Henrique Amorim) que estivessem no poder.

Serra, do alto de sua sabida arrogância e prepotência, tratou logo de desqualificar todas as medidas tomadas pelo governo Lula, com o riso cúmplice e hiênico do Casoy que arrematou que Lula estava fazendo diferente do que todo mundo estava fazendo nos países centrais do capitalismo (que petulância, como pode discordar do centro), ridicularizaram a fala do Presidente de que aqui a crise seria uma marolinha, e seria sim pois os fundamentos da economia brasileira eram outros bem diferentes da era FHC: tínhamos acumulado grande quantidade de reservas internacionais, ao contrario de perdê-las como com FHC, havíamos nos livrado do monitoramento e das restrições impostas pelos acordos com os organismos internacionais, havíamos pago a dívida com o FMI e Clube de Paris e Lula e Mantega não precisavam mais chamar à Brasília a senhora da mala do FMI a cada vez que se precisava tomar uma decisão em matéria de política econômica, industrial, cambial, financeira, salarial, etc, ou seja, Teoria da Dependência gera o que a nomeia, não duvidem.

Serra pomposo dizia: como reduzir impostos agora que todos os Estados querem preservar seu poder de investimento, como aumentar salários agora que eles tenderão a cair, como ampliar investimento no momento em que a arrecadação vai declinar. O sábio, o preparado Serra fez em São Paulo, o que faria no Brasil: aumentou impostos em plena crise, arrochou como sempre os salários (pergunte a um delegado de polícia de São Paulo o que ele acha do salário dele e porque o PCC só cresce), suspendeu investimentos, privatizou a Nossa Caixa, única empresa estatal que restava, rapidamente adquirida pelo governo federal através do Banco do Brasil, que saiu assim fortalecido da crise.

Quando viu o sucesso da política de Lula que, acima de tudo, conta com aquilo que Serra não tem e nunca vai ter: carisma e popularidade, indo a televisão convocar todos a continuar consumindo, explicando como só ele sabe fazer para a população porque era preciso manter o ciclo virtuoso da economia e não se deixar contaminar pelas nuvens negras profetizadas pelos urubólogos e urubólogas serristas de plantão na mídia e pelos próprios partidos da oposição, correu para copiar algumas medidas tomadas pela equipe econômica que ele havia chamada de inepta, que não tinha a brilhante trajetória de gestor econômico que ele tem.

Façam isso, por favor, assistam este vídeo, e se ainda assim quiserem entregar o Brasil a Serra, que o façam, mas minha consciência estará tranqüila, tentei fazer um esforço em alertá-los. Eu e o Brasil esperamos que mudem de opinião e ele não vença; se mesmo assim ele vencer vou torcer para que eu não venha a me divertir tanto quando encontrá-los, quanto me diverti meses após a posse de Collor, vendo os meus colegas coloridos que haviam votado no caçador de marajás e não no sapo barbudo com medo de perderem suas poupanças, reduzidos a CR$ 50,00 em suas contas. Assim como Collor, Serra sempre faz o que diz que não vai fazer; tenham cuidado. Abraço carinhoso a todos e um feliz e refletido voto para vocês e para o Brasil.
* Prof. Dr. Lourival Andrade Júnior é Presidente da Associação Nacional de História – ANPUH – e Professor Titular do Departamento de História da Arte da UFRN – Campus Caicó.

Enviado por Ana Almeida, GT COmbate ao Racismo Ambiental, Bahia.

Votou Marina? Levou Serra!

VOTOU MARINA? LEVOU SERRA!

A candidata Marina Silva acaba de anunciar que ficará neutra neste segundo turno que ajudou a criar. Neutra? Alguém acredita em neutralidade na política? A senadora Marina Silva tem uma história de vida belíssima, muito conhecida e muito respeitada. Porém, em sua campanha para presidente, toda essa simbologia construída junto com Chico Mendes e diversos outros companheiros e companheiras no PT do Acre esteve a serviço de um projeto político ambíguo, para dizer de forma elegante.
Marina Silva defendia quando fazia parte do PT aliança com o PSDB. Durante sua campanha para presidente usou um discurso de “união nacional” no qual governaria com os “bons do PT” os “bons do PSDB”, os “bons do DEM”, etc. Este discurso, incrivelmente despolitizado teve e ainda tem muita repercussão no Brasil, não à toa, José Serra segue a mesma lógica. A eleição para presidente da República é a mais importante das eleições, na qual projetos políticos diferentes serão debatidos com a sociedade.
Mas, qual foi mesmo o projeto político apresentado por Marina Silva para a população? Sabemos de sua história no ambientalismo e aqui cabe uma ressalva. O ambientalismo de Marina Silva é aquele do Greenpeace e WWF, que Plínio de Arruda Sampaio genialmente chamou de ecocapitalismo, mas, nem isso ela assumiu. Marina Silva, que é neopentecostal da Assembléia de Deus, não assumiu a sua fé, também não assumiu que é a favor da concepção criacionista nas escolas, contra a união civil entre pessoas do mesmo sexo, bem como o sexo antes do casamento, etc.
O ambientalismo de Marina e do Partido Verde é como o movimento “paz pela paz”, no qual as pessoas se vestem de branco e fazem uma caminhada para mudar o mundo e assim podem dormir sossegadas sabendo que fizeram sua parte. O Partido Verde é o mesmo que faz parte do governo do DEM e do PSDB em São Paulo, é apêndice do PSDB no Rio de Janeiro e apêndice do DEM no Rio Grande do Norte, onde tem o seu cargo eletivo mais importante no Brasil, a prefeitura de Natal, com apoio de José Agripino.
Como um projeto ambíguo assim teve tanto espaço na grande mídia? Por que as concepções conservadoras de Marina não foram divulgadas e exploradas pela mídia? Ora, sem isso como é que o PSDB iria para o segundo turno?
A oposição ao governo Lula, governo do qual Marina fez parte por seis anos, disputou as eleições para presidente como quem disputava prefeitura de cidade do interior com dois mil eleitores. Nunca baixaram tanto o nível! Questões morais, de fórum íntimo, passaram a ser o centro do debate. Essa baixaria interessava ao PSDB que queria fugir da comparação com o PT e contou com o incondicional apoio de Marina Silva.
Então, como se dividem os 19,33% eleitores de Marina? Matutando por aqui, consigo identificar três tipos. Direi eleitores de Marina porque não eram eleitores do PV, que teve pífio desempenho parlamentar, por exemplo. Para todos os três tipos, eleição para presidente não tem nada a ver com as outras eleições: para governador, deputados federais, deputados estaduais e senadores.
O primeiro tipo é progressista, apresenta sinceras críticas ao governo do PT, mas não quer de volta o governo do PSDB. Com estes, não apenas o debate é possível como é necessário. Com estes podemos também discutir seriamente com sinceras críticas ao projeto político de Marina. Este setor do eleitorado de Marina agora vota e faz campanha para a Dilma, melhor mesmo do que muitos petistas!
O segundo tipo é o eleitor cristão-protestante-neopentecostal. Recebi vários e-mails e recados no Orkut de pessoas pedindo voto para Marina, não por conta de sua história de vida, não por sua defesa do meio-ambiente, não por críticas ao PT ou ao PSDB, mas porque ela é “uma mulher de Deus”, contra o casamento gay e o aborto, contra essa a “pouca vergonha” e a “idolatria” que está se tornando a sociedade. Com esse tipo de eleitor não dá para conversar. Não dá porque estão na Idade Média e para convencê-los apenas convencendo o pastor ou bispo de sua igreja.
O terceiro tipo do eleitor de Marina é o neo-udenista de classe média, de “esquerda” ou de “direita”. O neo-udenista de classe média é aquele que lê a Veja, aquele que gosta de ouvir o Arnaldo Jabor e suas palavras proparoxítonas que parecem inteligentes, é o pessoal que parece politizado e de fato são a cada dois anos. São aqueles que de tão críticos e analíticos se envergonham de assumir o voto no PSDB, mas quer ver o governo do PT derrotado. Gostam de coisas exclusivas, de falar de coisas exclusivas. Como vão fazer uma análise crítica sobre Tropa de Elite 2 se qualquer pé de chinelo pode ver o filme e discordar do que falaram? No segundo turno, os neo-udenistas de “direita” já estão engajados em eleger José Serra e os de “esquerda”, claro, votarão nulo.
E algum momento Marina Silva veio a público dizer que não queria crescer eleitoralmente com baixarias ou despolitização? Não, claro que não! Na verdade, ela não disse nada durante a campanha. Agora, depois de um breve ostracismo inicial, volta a ganhar destaque na mídia dizendo que ficará independente, mas independente de quem? Dos que pagavam o seu jatinho de cinqüenta milhões de dólares? Marina não entende ou não quer entender as diferenças entre os dois projetos que disputam o segundo turno? É no mínimo irresponsável. Agora que já não serve mais para a grande mídia será “+ 1” no ostracismo, ou vocês não lembram da Heloísa Helena? Como boa cristã, Marina deveria saber que não se serve a dois senhores ao mesmo tempo, que entre o quente e o frio, o morno é repugnante!
As pesquisas estão indicando que mais da metade dos eleitores de Marina Silva irão votar no José Serra. A soma do segundo e terceiro tipo de eleitor verde é maior do que o primeiro tipo. Na capa do último jornal Causa Operária está uma manchete que resume bem o quadro: “Votou Marina? Levou Serra”.

In: http://democraticoepopular.blogspot.com/

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Marina Silva em Wall Street

VLADIMIR SAFATLE

Marina Silva em Wall Street

Com o programa econômico mais liberal entre todos, PV apresentou o novo centro, com roupagem "moderna"




"Wall Street" é, entre outras coisas, o nome do novo filme do cineasta norte-americano Oliver Stone. Ele conta a história da crise financeira de 2008 tendo como personagem central um jovem especulador financeiro que parece ter algo semelhante ao que um dia se chamou pudor.
Sua grande preocupação é capitalizar uma empresa, que visa produzir energia ecologicamente limpa, dirigida por um professor de cabelos brancos e ar sábio. O jovem especulador é, muitas vezes, visto pelos seus pares como idealista. No entanto, ele sabe melhor que ninguém que, depois do estouro da bolha financeira, os mercados irão em direção à bolha verde. Mais do que idealista, ele sabe, antes dos outros, para onde o dinheiro corre. Enfim, seu pudor não precisa entrar em contradição com sua ganância.
Neste sentido, "Wall Street" foi feliz em descrever esta nova rearticulação entre agenda ecológica e mundo financeiro. Ela talvez nos explique um fenômeno político mundia l q ue apareceu com toda força no Brasil: a transformação dos partidos verdes em novos partidos de centro e o abandono de suas antigas pautas de esquerda.
A tendência já tinha sido ditada na Europa. Hoje, o partido verde alemão prefere aliar-se aos conservadores da CDU (União Democrata-Cristã) do que fazer triangulações de esquerda com os sociais-democratas (SPD) e a esquerda (Die Linke). Quando estiveram no governo de Schroeder, eles abandonaram de bom grado a bandeira pacifista a fim de mandar tropas para o Afeganistão. Com o mesmo bom grado, eles ajudaram a desmontar o Estado do bem-estar social com leis de flexibilização do trabalho (como o pacote chamado de Hartz IV). Daniel Cohn-Bendit, um dos líderes do partido verde francês, fez de tudo para viabilizar uma aliança com os centristas do Modem. Algo que soaria melhor para seus novos eleitores que frequentam as praças financeiras mundiais.
No Brasil, vimos a candidatura de Marina Silva impor-s e com o terceira via na política. Ela foi capaz de pegar um partido composto por personalidades do calibre de Zequinha Sarney e fazer acreditar que, com eles, um novo modo de fazer política está em vias de aparecer. Cobrando os outros candidatos por não ter um programa, ela conseguiu esconder que, de todos, seu programa era o economicamente mais liberal. O que não devia nos surpreender. Afinal, os verdes conservaram o que talvez havia de pior em maio de 68: um antiestatismo muitas vezes simplista enunciado em nome da crença na espontaneidade da sociedade civil.
Não é de se estranhar que este libertarianismo encontre, 40 anos depois, o liberalismo puro e duro. De fato, a ocupação do centro pelos verdes tem tudo para ficar. Ela vem a calhar para um eleitorado que um dia votou na esquerda, mas que gostaria de um discurso mais "moderno". Um discurso menos centrado em conflitos de classe, problemas de redistribuição, precarização do trabalho e mais centrado em "nova aliança", "visão integrada" e outros termos que parecem saídos de um manual de administrador de empresas zen. Alguns anos serão necessários para que a nova aliança se mostre como mais uma bolha.


VLADIMIR SAFATLE é professor no departamento de filosofia da USP.
blog: http://jaldes-campodeensaio.blogspot.com/

sábado, 2 de outubro de 2010

Vou escrever, vou analisar, vou Votar, posso até errar, mas vou dizer: Vou de Luiz Couto 1345 no próximo domingo!

Vou escrever, vou analisar, vou Votar, posso até errar, mas vou dizer: Vou de Luiz Couto 1345 no próximo domingo! – Por Eduardo Fernandes (pessoa paraibucana)

A campanha eleitoral neste próximo dia 03 de outubro chega a sua principal encruzilhada, escapando de discussões sobre a perspectiva majoritária (corrida presidencial ou governamental na Paraíba), a centralidade do texto está em torno das eleições para a Câmara de Deputados.

Percebemos nos últimos 20 anos que as casas legislativas funcionam além/aquém do que está previsto constitucionalmente enquanto atribuições inerentes ao Poder Legislativo. Compreendemos que é um lócus privilegiado para constatação de circunstâncias que estão latentes/patentes na sociedade, na mídia e nos demais poderes.

As casas legislativas funcionam enquanto impulsionadoras de tensões e contradições políticas, partidárias, culturais, sociais e históricas. Nada de novo, caso também não possamos perceber que o Poder Legislativo também é amortecedor da ânsia conservadora e retrograda, encampada pela Bancada Ruralista, Bancada da Bala e outras que sempre se aproximam com mais poder na consolidação de um Estado que prevê a supressão de direitos conquistados por demandas populares, como por exemplo,a questão quilombola, a discussão sobre o PNDH 03, redução da maioridade penal, entre outros, as táticas utilizadas que nos exasperam nas nossas redes, fóruns e outros são concretizados através de projetos de lei, CPI´s, CPMI´s, audiências públicas e/ou discursos no púlpito que tem por objetivo central a criminalização de movimentos sociais.

A via parlamentar também estabelece momentos políticos, onde pautas de movimentos sociais e outros atores ganham uma dimensão midiática e instrumental (político-jurídico) que transitam no cotidiano em gabinetes, comissões, ministérios, reuniões de representações de classe, decisões do judiciário e pontos de (in)confluência na estipulação orçamentária.

Obviamente que não há linearidade dessas dinâmicas e que em alguns momentos sem que possamos perceber, a tão afamada expressão “correlação de forças” é desconsiderada pragmaticamente, taticamente ou estrategicamente. Na configuração parlamentar anteriormente apontada há uma sinalização “blocada” de rápida convergência (pública ou sorrateira).

Desprezamos e fazemos o jogo midiático e reproduzimos o senso comum, despejamos nossa lassidão nas recorrentes expressões: “nada vai mudar, político é tudo igual, não quero envolvimento com isso, cadê o julgamento dos fichas-sujas?”.

Não consideramos a dimensão ideológica do bom senso trilhado por parlamentares que constituem seu mandato em defesa dos direitos humanos, na defesa e promoção de políticas para população negra e das mulheres, entre outras frentes que trazem debates e perspectivas no campo político, jurídico e cultural. Podemos com maior evidência observar circunstâncias políticas e formais, como a fusão e confusão de diversos interesses e articulações que transitam desde a “idéia” fluída de governabilidade do Poder Executivo, até as raias das sabatinas superficiais e pouco exploradas para compor o Supremo Tribunal Federal.

Propositalmente excluímos do rol das perspectivas de mudança o elemento econômico em face do entendimento de que a dimensão legislativa não irá radicalmente transformar o sistema, porém, diante deste dado, não devemos nos frustrar histericamente com a construção e recuos/disputas de políticas públicas, políticas sociais e reformas estruturais necessárias, geralmente pautadas por Conferências temáticas, pressão popular, estudos acadêmicos, viabilidade conjectural. Consideramos que apresentar novos desafios para sociedade e aos demais Poderes é também forma de estabelecer novas linguagens que foram estrategicamente e ideologicamente renegadas aos subterrâneos do cenário histórico, político e jurídico brasileiro.

Todos os espaços e dimensões são limitados, porém, ao desconsiderar a dimensão legislativa nesse momento histórico e político brasileiro incorremos em erros, que hiper-dimensiona ou descarta totalmente o processo do próximo domingo, é necessário sensatez sem ficar amorfo ou crédulo.

A disputa domingo está aberta, a minha opção pessoal e política é pela reeleição do deputado federal Luiz Couto na Paraíba, não só pelo entendimento político (também limitado do texto), é contextualizado na admiração por esse ser humano que transcendeu e engrandeceu a política paraibana nas últimas décadas, colocando a própria vida (pessoal e partidária) à disposição das causas populares e na defesa dos direitos humanos, enquanto humano, o Padre Luiz Couto sofre, sorri, abraça, cansa, respira, luta novamente e mais uma vez, coloca à nossa disposição seu mandato para que possamos apontar para todo Estado da Paraíba e ao Brasil qual o perfil de parlamentar que queremos na longa jornada que iremos enfrentar para uma mudança real, libertária e emancipatória, que também não se furta a compreender e vislumbrar perspectivas bem mais complexas para os próximos anos.