quinta-feira, 15 de maio de 2008

13 de maio - duas faces. Milhões de interfaces nas esquinas


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Essa semana foi comemorando o dia 13 de maio.

Digito novamente: comemorado! Também aplaudido, festejado e ainda mais bem curtido, principalmente no dia 14.05.

A festa foi completa, eu não estava lá no dia 13, muito menos no dia 14, sequer consegui escutar o rádio ou acompanhar aqueles quadros angustiantes que ficam nos sítios da net.Desliguei a T.V. porque aquela bolinha dourada que aparece no canto da tela dá arrepios.

Caros e caras é bom demais ser rubro-negro, negro de alma e corpo. Melhor ainda é você dedicar à uma paixão da sua vida um tempo(mesmo que ilusórios de um transe coletivo), interesse(mesmo que sem perder as prioridades) e reflexões(sonhos nos quais além do time, a cidade, o Estado, a Região sejam reconhecidos por suas potencialidades).

Bom demais, ser nordestino, paraibucano e ver o Sport chegar em decisões ou momentos nos quais parecem reservados para uma elite paulista-carioca que domina a mídia futebolística. Essa mesma dominação infelizmente ainda hoje influencia comportamentos e torcidas extraterritoriais, principalmente dos meus irmãos e irmãs paraibanos (Não discuto mais isso...E hoje em dia acredito que o maléficio está enraizado).

Vai ser lindo ser campeão da Copa do Brasil após 19 anos da primeira final. Pode ser...Pode ser. Lembro que em 1989 estava na Ilha do Retiro, do jogo pouco lembro, apenas o fato de ir com meu Tio, meu avô (que não é rubro-negro, mas é nêgo e do négo) e um colega do colégio(gaúcho torcedor do Inter), recordo nitidamente do meu boné do Sport no qual pintei uma estrela amarela após 1987. Nossa como era terrivelmente pintada a estrela...rs.

Recordo mais das sensações (gosto de amedoim cozido e torrado com guaraná), o trânsito das pessoas vestidas com a camisa do Sport,o estádio lotado de indíviduos mas gritando em um só pulmão: SPORT!SPORT!SPORT!.

Caso o Sport não vença o Vasco ou não ganhe a final, ficarei chateado,como todo e qualquer torcedor que vê a chance de ir para a disputa das libertadores escorrer pelas mãos, mas acho que novamente demos (pernambucanos, rubro-negros) uma lição sobre a importância de gostar, vibrar, viver com nossos localismos, tirar mais uma onda do vizinho torcedor do Naútico, ou dar uma "gaitada"no tricolor que trabalha conosco.

Para não dizer que tive influências externas, até hoje invejo e admiro muito o São Paulo Futebol Clube, sua estrutura de clube (Estádio, Hall de Taças, Museus e etc), a seriedade (pelo menos aparente) de seus dirigentes, os belos times montados por Cilinho e Telê, os craques que em algum momento quis ser na minha infância: Muller, Careca, Silas, Serginho Chulapa e Sidney (esse era um Negão com um semi-rasta, que jogava muita bola e batia muito também...rs).

Muitos dos paraibanos que torcem para times cariocas falam mais ou menos isso que comentei acima, lembram de Zico ou Roberto Dinamite, de um pai, tio ou avô que escuta na rádio os jogos cariocas, para mim que vivi apenas 120 km de distância também no período em que o futebol se apresentava com tantas belezas para minha vida, quis ser jogador do Sport (ou pelo menos nas peladas nas ruas e colégio), dizia que era : Betão, Ribamar, Robertinho, Marco Antônio ( O XERIFE) e até Henágio ( um jogador que vivia no banco do Sport, não jogava quase nada, mas quando o jogo não dava em nada era o nome puxado pela torcida, até hoje não sei se por gozação, ou tinha gente que acreditava no cara...rs). Outro Negão que batia mais na área do que os zagueiros.

O dia 13 de maio para mim é o aniversário do Centenário Sport Club do Recife. Falam e insistem alguns na comemoração do 13 de maio em face da Lei Áurea "abolição da escravidão no Brasil"!?. Esse dia para mim só tem importância considerado como um dia de denúncia da exploração contínua dos negros/as no Brasil.

Nessa data temos um Decreto (mania de lei desde sempre...rs) da Princesa ISabel, atualmente o Decreto celebra seus 120 anos de idade, momento no qual se constituí no Brasil a mais ampla passagem do processo de escravidão racial para o de exclusão social...

De certo apenas mais 120 anos para que, computadas as abolições em movimento pela população negra e das outras cores,etnias, línguas, culturas e sabores que se reconhecem parte da mesma causa, poderemos cogitar em colocar o 13 de maio com menor acidez nas referências da vida do povo negro, enquanto isso não ocorre, todo dia 13.05 é apenas data do aniversário do Sport e todo dia é dia de reflexão para a questão negra...

Meu Jesus é negão (desenho acima com o manto sagrado)...Quando eu encontrar um assim em uma Igreja Católica (para além da obra de Ariano - foto com o manto sagrado) talvez minha resistência perante essa instituição que aceitou/estimulou o processo de prisão, escravidão e extermínio dos meus antepassados diminua um pouco (coloco que tenho profunda admiração pela Teologia da Libertação e seus ícones, mas para mim não fazem parte DA Igreja e sim são focos de resistência).

Compreendo que como aqueles que fazem barricadas teóricas e/ou práticas contra o "império capitalista", como os outros que fazem resistência contra a discriminação e preconceito ou como aquelas moças que fazem trincheiras em várias partes do mundo através de suas alternativas vivas de inserção, revolução ou modificação do status quo, me sinto alicerçado a continuar.

Vislumbro um país das sub-versões (versões subterrâneas que não foram ainda contadas) como aqueles/as de homens e mulheres sem nomes ou parentes importantes que estão à margem dos pretensiosos discursos acadêmicos,políticos e/ou "culturais" dominantes, entendo por outro lado que temos aqueles/as que através da academia, da política e/ou lutas culturais barulhentas e silenciosas percebem e atuam unidos mesmo que (ainda bem que...rs) caleidoscopicamente entendendo, compreendendo, percebendo, comungando e caminhando com os anseios das diferentes formas de manifestação contra o que está presente.

Meu grito pelo Sport não é só uma paixão de futebol, mas é a compreensão de que do meu localismo individualizado e/ou compartilhado em campo com outros milhares : Não!Não somos cariocas, não somos italianos, não somos torcedores apenas, somos uma resistência em cadeia, do que representamos nas nossas falas, no nossos jeito de cantar, nos pratos prediletos, na face queimada do sol, no gosto pelo litoral e pelo sertão. Sim!Somos Pernambucanos, nordestinos,brasileiros, latino-americano.

Não esqueço de que as divisões (territoriais) e categorias (sociais) foram impostas, pois tanto faz um negão ou negona nas ruas de Recife, Paris ou Buenos Aires, elas e eles são marcas da história do mundo, alguns se utilizam de outras categorias como mais "internacionalizáveis" - consumidores ou excluídos por exemplo, tais perspectivas podem nos calar, nos fazem esquecer para não perceber o que sempre está impregnado na cor da gente.

Negões e negonas, não temos que agradecer à princesa ou a presidente. Não somos fruto dos sonhos iluministas, capitalistas ou até mesmo comunistas, por maior proximidade que possamos ter com os sonhos libertários e igualitários, mas é preciso que entendam de que somos frutos das nossas próprias experiências, dos nossos próprios deslocamentos e até descoloramentos (aff...vivem me chamando de moreninho...rs), somos assim como o Sport (rubro-negros), somos nós mesmos gritando solitários dentro do quarto ou arrudiado de milhões.

Um comentário:

Anônimo disse...

E fomos campeões!!!