quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Carnavais, Malandros e Heróis.


Roberto DaMatta, considerado por muitos, um dos maiores antropólogos modernos do Brasil, é um escritor/pesquisador que tem como característica principal uma escrita crítica, simples e bem humorada.
Cultuado nas décadas de 1970 e 1980 entre os estudantes de ciências sociais, atualmente suas obras começam a chegar no campo do direito - sempre 30 anos luz de distância - pois bem, em determinado momento do livro que leva o título dessa postagem, constituí uma relação entre as instituições e leis do Estado brasileiro e faz uma comparação rápida com o sistema nos E.U.A, asseverando que :
"No Brasil....Pobre de quem tem de ser haver diretamente com as leis e com as instituições impessoais do Estado na sua lógica jurídica que "não pode parar" e tem razões que o coração deve desconhecer. Nota-se, pois, que entre nós o Estado é poderoso não como mero instrumento de classe, mas, sobretudo, como uma área dotada de recursos e leis próprias.Um domínio capaz de criar um espaço social fundado no indívidou, onde as relações estruturais e dominantes do universo da família, do compadrio, da amizade, da patronagem e do parentesco podem ser colocadas em risco e, por causa disso, serem reforçadas(...) será mesmo possível escapar do sistema americano?Tudo parece que não. Lá um único movimento parece possível: marchar sempre na direção do sistema, procurando nele, e através dele, cravar a diferença ou a inovação que, anteriormente, sugeria a renúncia e/ou a mudança social radical. É assim que todo o chamado movimento hippie já pertence ao estabelecimento, na dialética sistemática e perene de canibalização de todas as vanguardas que caracteriza o American way life."
Durante mais um bombardeio midiático sobre a posse do novo governante do mundo, fiquei a pensar em várias questões (nós x eles), até o momento em que tive um devâneio histórico: Imagine César entrando em Roma, sendo proclamado Imperador de Roma, isso tudo com a mesma cobertura que vimos nos últimos dias, nós, pertencentes as colônias vibrando com a chegada de mais um líder...Visões de um museu com grandes novidades.
A questão que sinalizo no texto do DaMatta, é a nossa idéia de formação de um sistema por dentro dele mesmo, nos moldes de valores, sentimentos, modelos que não nos pertencem, ao mesmo tempo no qual temos uma concretização de forma perjorativa dos carnavais e dos malandros transeuntes das instituições que se esquivam das suas responsabilidades, mesmo que não sejam heróis.
Nos E.U.A a criatura do super herói, é uma plastificação de deuses, semi-deuses e afins da Grécia e Roma, não é necessário ir muito longe para ver a mitificação em torno das histórias em quadrinhos e filmes em torno desses personagens, porém em determinados momentos, super-homem, batman, rambo e outros não proporciona tal euforia, desta forma eles constituem heróis de carne e osso, no caso, o novo presidente, super e ultra étnico, das lutas comunitárias até as nuances nucleares, da cor marcada pela história de discriminação racial, individual e institucional, ao mesmo tempo que se torna advogado por Harvard, ou seja será Obama canibalizado ou é fruto da própria canibalização?
No Brasil, nossos heróis são os deles, os nossos fazemos questão de não reverenciar, mas como canta Jorge Ben: "Quando Zumbi chegar, o que vai acontecer?Zumbi é senhor das guerras, é senhor das demandas, quando Zumbi chega é Zumbi que manda....".Será que viverei o suficiente para que dentro do sistema, após um nordestino, sem diploma, sindicalizado no poder executivo, poderei ver um/a negro/a na presidência?
Duvido muito, duvido de tudo...Por aqui é tudo empacassado...se é que se escreve assim essa palavra...Daqui a pouco chega o carnaval.
No passo que a criança segue, a bola fica para trás...

Nenhum comentário: