sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Carnaval - Sei lá.







Tá bom, é carnaval de novo. Como tem ano novo todo ano, natal, aniversário, festa de padroeira, 07 de setembro e outras datas afins.
Apesar de ser pernambucano, minhas primeiras impressões em relação ao carnaval não foram em bailes, blocos, troças e afins que animam o carnaval das ruas de Recife e Olinda. Minha relação com carnaval começou com a babá eletrônica teleguiada pela TV do PLIM-PLIM, além é óbvio no começo da puberdade madrugadas solitárias acompanhando os bailes "proibidões" que passavam na extinta TV Manchete.
Certo de que os poucos que esbarram nesse espaço não estão interessado em uma imersão pessoal entorno dos bailes transmitidos pela TV Manchete, prefiro falar do impacto da TV do PLIM-PLIM e o carnaval enquanto sinônimo de Rio de Janeiro e desfile das Escolas de Samba.
No ano de 1988 eu era uma criança (pré-adolescente) que gritava muito Axé Negão, para todo mundo na rua(no ônibus voltando para casa, passava alguém conhecido ou não e a gente gritava : Axé Negão), não entendia o que era um Axé Negão, sequer existia o termo "Axé Music" para tentar entender ou confundir mais minha mente, mas lembro que naquele ano, todo mundo falava muito em Axé e saudavam os outros com o Axé ou Axé Negão, para mim era a superação do modismo lançado por Baby Consuelo que em todo lugar que ia, jogava a palma da mão direita para frente das câmeras e gritava : Rá ou Rah!
Depois de alguns anos, e talvez um ou dois trabalhos realizados na escola, entendi que a gíria do Axé tinha uma relação direta com os 100 anos de abolição legal/formal da escravatura no Brasil, onde é certo os trabalhos falavam mais da bondosa princesa, do que da resistência negra e outras formas de luta contra a escravidão, que "apenas" durou 300 e poucos anos como colocam muitos que torcem o nariz para esse passado no presente brasileiro...enfim...
Nesse mesmo ano,a Mangueira foi para o desfile na Sapucaí com o tema : 100 Anos de Liberdade, Realidade ou Ilusão.Calma, não vou mentir para vocês dizendo que isso foi marcante na minha vida naquele momento, achei o título do samba-enredo na internet, porém quando escutei o refrão no ano passado no CD Velha Guarda da Mangueira, 10 anos depois, na mesma hora lembrei de toda a música, vale a pena procurar e dar uma lida na crítica racial-social que o samba-enredo trouxe naquele ano, aqui segue o refrão:
O negro samba negro joga capoeira
Ele é o rei, na verde e Rosa da Mangueira
O negro samba negro joga capoeira
Ele é o rei, na verde e Rosa da Mangueira, será?
Outros sambas que embalaram carnavais da Mangueira são entoados no mesmo pout-pourri, e todos eu sabia, cantava junto, e até sambas mais tradicionais também surgiam na minha mente como se eu estivesse vivenciado a Mangueira ou acompanhado a escola verde e rosa dentro da comunidade por toda minha vida.
Apesar da minha admiração e torcida pela Mangueira - até sem ver os desfiles gostava de ver na quarta-feira de cinzas aquela votação só para ver em que posição a Mangueira iria ficar - talvez seja alguma relação com outro Programa da TV do PLIM-PLIM, os Trapalhões, onde Mussum sempre estava com aquele boné verde e rosa dele, vai lá saber o que fica no subconsciente de uma criança...rs.
Talvez o fato de gostar de Cartola,Jamelão ou de sempre ver a Mangueira como uma comunidade que buscava alternativas para as crianças através de programas esportivos e sociais, essa relação era como algo que eu fazia parte, é certo que com o passar dos anos minha relação de auto-estima em relação as coisas dos meus Estados (Pernambuco e Paraíba) ficaram e ficam cada vez mais forte, a percepção da maquiagem global para a centralização em um tipo de Carnaval que vende a imagem do Brasil também, outra situação deixou minha relação com a Mangueira (como se o Jequitibá do Samba soubesse da minha existência...rs) um pouco arranhada, no tempo que morei no Rio e não pude subir no Morro porque não tinha "passaporte".
Contudo, nesse carnaval, sei lá, porque sou Cabra da Peste, porque eu cantei iá, iá, para ver meu Guri passar,ou talvez eu seja um pouco Charles Chaplin e Zé Pereira, resolvi homenagear no balance, balança a Estação Primeira, a madrinha do Salgueiro, a rival da Beija - Flor.
Para tanto trouxe a música Sei lá Mangueira. Composta por um autêntico portelense Paulinho da Viola. Bom Carnaval, com muito Axé!!!

Vista assim do alto
Mais parece um céu no chão
Sei lá,
Em Mangueira a poesia fez um mar, se alastrou
E a beleza do lugar, pra se entender
Tem que se achar
Que a vida não é só isso que se vê
É um pouco mais
Que os olhos não conseguem perceber
E as mãos não ousam tocar
E os pés recusam pisar
Sei lá não sei...
Sei lá não sei...

Não sei se toda beleza de que lhes falo
Sai tão somente do meu coração
Em Mangueira a poesia
Num sobe e desce constante
Anda descalça ensinando
Um modo novo da gente viver
De sonhar, de pensar e sofrer
Sei lá não sei, sei lá não sei não
A Mangueira é tão grande
Que nem cabe explicação

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