domingo, 19 de julho de 2009

19 de julho - dia do futebol.


Foto : Daniel Rabelo



No livro Futebol Ao Sol e À Sombra, Eduardo Galeano traça uma perspectiva entre história, literatura, poesia e óbvio futebol.

" - Como a senhora explicaria a um menino o que é felicidade?
- Não explicaria - respondeu. - Daria uma bola para que jogasse. (Pergunta feita por um jornalista à teóloga alemã Dorothee Sölle.)

Acima do futebol, está a lenda. Uma estranha magia se impõe ao esporte. E o jogo se transforma em saga, desperta paixões, cria mitos, heróis, glórias e tragédias. Exaltado pelas multidões, criou em seu lado sombrio um mundo à parte que envolve poderosíssimos interesses políticos e financeiros.
Mas nada se sobrepõe ao encanto desta "festa pagã". Para captar este fascinante universo de perdas e conquistas, Eduardo Galeano penetrou nas profundezas da história e das histórias que se passam dentro e fora das quatro linhas. Construiu este livro como um verdadeiro monumento à paixão,. Através de sua prosa consagrada, tudo tem sabor. Pelé, Di Stéfano, Maradona, Zizinho, Didi, Garrincha, Obdúlio Varella - o carrasco uruguaio de 1950 -, o aranha negra Yashin, Leônidas, Platini, Domingos da Guia, Friedenreich e muitos outros craques são mostrados nos seus momentos de esplendor e desgraça.
Ágil, emotivo, este livro flui prazerosamente. Não é preciso ser um apaixonado pela bola para apreciar esta saga. Basta se apreciar a grande literatura."

Essa introdução ao livro nos coloca diante da abrangência do tema, futebol é coisa de criança, é coisa de adulto, é coisa de todos/as; não consigo me afastar dele por mais que as nuances políticas financeiras e as armações visíveis ponham no fundo da minha rede de mágoas a paixão lúdica por esse esporte desvairado, inconsistente e ao mesmo tempo previsível em seu calendário, pontos, regras, tabelas...

Não consigo pensar o que seria minha vida sem um joguinho de futebol, sem desafiar a própria memória para comentar ou citar jogadas e jogadores que nunca vi jogar, mas que as conversas em botecos e bares me fazem saborear horas de papos e interlocuções imaginárias de um mundo que rola na ginga fácil das palavras, um mundo que rola como uma bola.

Minha paixão pelo Sport já tentei explicar em outras postagens, porém venho nos últimos anos tentando dialogar também academicamente com o futebol, e meu primeiro ensaio, são algumas linhas na minha dissertação, pois é, coloquei futebol na acadêmica, no curso de direito, pode? Não sei se pode ou não, marquei um golzinho, mesmo colocando ou interligando a discussão com a identidade negra no Brasil com o mundo da bola.

Desta forma, minha homenagem ao Futebol, saí das minhas palavras na construção acadêmica que se projeta além ou aquém das nossas pelejas nas quatro linhas, ainda devo uma pesquisa sobre os técnicos negros e dirigentes negros no futebol brasileiro, dominado por jogadores negros, mas que não encontram guarida nos campos institucionais dessa fábrica de imperfeições.

O Estado brasileiro, pensado em uma dinâmica que perpetua as contradições sociais, históricas e culturais, tem desde os seus primórdios, uma dificuldade em aceitar a diversidade, ou ainda pior, se apropria da própria diversidade para negar a existência das diferenças. Os valores singularizados são desqualificados em face de uma constituição identitária nacional que estimulam padrões sociais, culturais e religiosos:

(...) a sociedade brasileira cria mecanismos desfavoráveis ao desenvolvimento de uma identidade articulada em torno de valores positivamente afirmados, não somente para os afro-descendentes, mas para todo e qualquer cidadão, aí incluindo os brancos e indígenas pois, na verdade, trata-se de um problema de constituição da identidade do brasileiro (FERREIRA, 2000, p. 43).

Outros estigmas contra os negros no Brasil são difundidos por questões culturais que habitavam o imaginário popular nos anos de 1950. Como exemplo simbólico, nos gramados de futebol, a derrota do Brasil para o Uruguai, na final da Copa do Mundo de 1950, foi atribuída à participação de jogadores negros como o goleiro Barbosa e o lateral Bigode.

Após a conquista dos gramados mundiais (Copas do Mundo de 1958, 1962 e 1970), o brasileiro – tido enquanto conjunto e não mais segregado racial e socialmente - cria sua auto-imagem através de jogadores negros, e esses sai denominados como bons de ginga, ao mesmo tempo em que se reforça o estereótipo dos/as negros/as enquanto malandros, sambistas e mulatas (fogosas, boas de cama e cartão postal para as aventuras sexuais dos estrangeiros).

Outras imagens que refletem a sua condição econômica, política e social no Estado brasileiro serão amplificadas pela mídia nacional, com o surgimento e difusão das televisões – canais de TV (anos de 1950-1970), assim como nas produções novelísticas, em que passam a ser agregados enquanto símbolos da produção cultural brasileira. Os papéis designados aos/às negros/as eram, invariavelmente, os de empregados domésticos, escravos ou de ameaçadores da ordem pública.

Como salienta Norbert Elias (1994, p.39), o indivíduo em uma sociedade só tem a capacidade de se reconhecer perante ela no momento em que consegue enxergar nas diversas formas de organizações sociais e manifestações culturais, ou seja, no instante em que ele aprende a dizer “nós”.

2 comentários:

Unknown disse...

INteressante!

Anônimo disse...

Interessante!