quarta-feira, 27 de outubro de 2010

O Voto em Dilma é oPTar – O Ringue e O(s) Espaço(s).

O Voto em Dilma é oPTar – O Ringue e O(s) Espaço(s).

Por Eduardo F. de Araújo

“é lícito dizer que o futuro são muitos; e resultarão de arranjos diferentes, segundo nosso grau de consciência, entre o reino das possibilidades e o reino da vontade. É assim que iniciativas serão articuladas e obstáculos serão superados, permitindo contrariar a força das estruturas dominantes, sejam elas presentes ou herdadas”. Milton Santos.

Algumas questões povoam nos últimos dias as redes sociais, reuniões de grupos políticos, mesas de bares, mídia nacional (também contra-hegemônica) e bastidores partidários, dentro dessas temáticas aparecem discussões sobre a questão de gênero, orientação sexual, religiosidade, Estado Laico, modelo de desenvolvimento econômico, privatizações, corrupção, baixarias eleitorais, conquistas sociais, cooptação pelo Estado, pragmatismo eleitoral, projeto popular, correlação de forças, messianismo eleitoreiro, (re)alinhamento progressista, recrudescimento de posturas retrogradas e conservadoras, entre outros assuntos tão caros quanto estes a democracia e ao projeto de nação em conturbada construção.

Até o momento, duas análises despertaram minha atenção, a primeira provocada pelo Professor e Historiador Durval Muniz, texto intitulado “Dois Projetos Radicalmente Diferentes” divulgado pelo Blog do GT Racismo Ambiental em 17 de outubro de 2010. Em síntese, o texto não apresenta os programas políticos enquanto totalmente opostos, mas, RADICALMENTE opostos na sua raiz, no seu nascedouro e nas dimensões políticas, econômicas e sociais que permitem ou não uma articulação e compreensão das forças sociais que no campo das estruturas constituem paradigmas iniciais de rompimento com velhos mecanismos de controle, opressão e alienação; considera o autor, que as novas dimensões e problematizações das funções do Estado, do papel da economia, da academia, da sociedade e dos partidos políticos são constituídos e disputados em vários processos concorrentes, dialéticos e não lineares.

A segunda percepção, não advém de textos, debates na televisão, propaganda eleitoral, manifestos, cartas, apoio de juristas, defesa dos reitores da Universidade Pública, representações de classe, organizações não-governamentais ou de outras considerações materiais trazidas em prol da candidatura Dilma. Também não são cristalizados em dados estatísticos sociais e econômicos, visto que, esses dados são irrefutáveis quando comparam FHC/SERRA versus LULA/DILMA, tais elementos compõem no momento eleitoral as nossas bagagens e argumentos para a defesa do voto em Dilma “para o Brasil seguir mudando”, o que seria suficiente para a opção entre as legendas e/ou candidatos.

Essa segunda perspectiva decorre diretamente da relação do tempo vivido pela recém democracia brasileira e as condições históricas de superação das contradições estruturais, “De um lado esse carnaval, do outro a fome total...”. Sobre estes processos é que iremos aprofundar algumas análises no Ringue e no(s) Espaço(s).

O Ringue

Do lado direito do ringue eleitoral, temos o PSDB, o DEM, a Rede GLOBO, a BAND, a Revista VEJA, grupos religiosos conservadores, empresariado internacional do capital especulativo, agronegócio, bancada ruralista, privatistas e personalidades do gabarito de Reinaldo Azevedo, Agripino Maia, Arnaldo Jabor e outros, os quais apenas recebem a denominação sutil de liberais da direita.

Ainda deste lado do ringue, e para além do ringue, na torcida ferrenha, em dimensão mais à direita, galopa uma ordem discursiva e ativa, em um processo de ressurgimento, que posiciona novamente no cenário político nacional a Tradição, Família e Propriedade (TFP), percebam que a TFP não é a Bancada Ruralista que sofreu nas eleições proporcionais uma derrota quantitativa, mas manteve seu núcleo duro e devem conquistar aliados rapidamente, estamos falando da TPF, o mais perigoso agrupamento coletivo da história do Brasil, perto da TFP, os denominados liberais da direita são crianças em processo de iniciação fascista.

A TFP representa uma posição mais orgânica e viva em nosso país de setores de extrema-direita (sutileza ao dobro), revestida de uma roupagem nacionalista, armamentista e cristã, sob as vestes do discurso de “Ordem e Progresso”, tem sua raiz exponencial na recente história brasileira, na “Marcha da Família com Deus pela Liberdade” de 02 de Abril de 1964, ato político-religioso de salvação da sociedade fadada ao “comunismo” e ao desvirtuamento moral e religioso, naquele momento estava em jogo às reformas de base anunciadas por João Goulart em discurso proferido em 13 de março do mesmo ano, entre elas a Reforma Agrária, o resto da história todos nós sabemos e outros fingem que não lembram.

Do outro lado do ringue, no lado esquerdo, o PT, seus aliados estratégicos, militantes históricos, projeto de governabilidade, dificuldades em formar uma hegemonia política, contradições partidárias – que sempre foram abertas ao público em geral, por ser sem dúvida o partido mais democrático do Brasil - somando-se a isso, figuras que não gostamos de ver no exercício do poder, porém, continuam margeando a política nacional, por fisiologismo e atração instantânea ao convívio do lado vitorioso nos pleitos eleitorais.

De toda sorte, não podemos esquecer que dentro dessa diversidade no canto esquerdo do ringue, existem os movimentos sociais, de diversas origens nas lutas populares e concepções ideológicas, setores de partidos políticos, sindicatos, associações, grupos comunitários e movimentos de base, que não se furtam ao debate das idéias e das alternativas para construção de projetos populares.

Neste mesmo espaço, existem setores das Igrejas Cristãs que compreendem a dimensão histórica das transformações sociais, buscando o diálogo e a opção pelos pobres, religiões de matriz africana, grupos de docentes e discentes vinculados a pesquisa/extensão e ensino críticos, além de grupos/pessoas que não possuem religião, partido, posição visceral com movimentos ou outras articulações coletivas, porém, constituem nesse momento eleitoral posições diretas e consistentes na argumentação de sua opção eleitoral.

Temos ainda neste lado do ringue, jornalistas out sidders com atuação principal na mídia virtual, redes feministas, grupos de combate à homofobia, movimentos de luta pela moradia com serviços prestados com/para a classe trabalhadora, são visíveis grupos e movimentos de apoio e assessoria em defesa da reforma agrária, militantes das concepções do modelo de desenvolvimento rural e ambiental alternativos, educadores/as populares, juristas progressistas, defensores/as de direitos humanos e formadores/as de opinião crítica.

Vários desses atores sociais estão ocupando da centralidade até a esquerda do ringue, todos/as observam a dimensão conjuntural do que está em jogo no 2° turno e saem das suas posições de resfriamento militante político partidário e assumem este lado do ringue para a disputa no dia 31 de outubro.

O(s) Espaço(s).

Para um dos maiores intelectuais do Brasil - o geógrafo Milton Santos - o espaço é: lugar de atuação. Atuação para o mestre é comportamento orientado que se dá em situações e que envolve um esforço ou uma movimentação.

A escolha nesse segundo turno demanda compreensão do espaço e da atuação, exige compromisso histórico com os avanços, com a visualização das contradições, assim como, superação da ingenuidade conciliatória. Transcendem as amarguras pessoais, e assumem uma dimensão propositiva em face das dinâmicas das classes trabalhadoras e dos grupos vulneráveis, com a intenção de superação às múltiplas opressões cotidianas.

Compreende-se que esse espaço/atuação momentâneo eleitoral também serve para os (re)encontros, o olhar maduro e cansado repousa, procura no rosto jovial e renovador sua própria força interna, na via dialógica, as novas expressões amplificam os compromissos e aguçam seu poder de criticidade, em situações como essas os encontros das gerações trazem novas aproximações e pautas políticas que serão norteadoras de novas/velhas batalhas.

De certo, que existe uma posição neutra apresentada por outras dimensões das esquerdas no Brasil, é compreensível. Não cabe nesse instante apontar quais são todas as perspectivas que levam a esse posicionamento, porém, é importante observar que neutralidade é algo que não existe, e do outro lado do ringue não há desistências tão significativas, como citado anteriormente, o que se vislumbra é o aumento do discurso da intolerância às diferenças e a nítida percepção da necessidade de sufocar qualquer foco de transformação ou mudança na centralidade elitista da convivência democrática.

Imprescindível, pois, que sob pena de uma inodora postura perante temas relevantes citados no começo e durante esse texto, assim como, abordado por vários articulistas e comentadores das ruas, praças, missas, salas de aulas e afins, que ao perceber as circunstâncias eleitorais que estamos vivenciando é imprescindível tomar uma posição e proteger suas preferências políticas eleitorais, como alerta Gramsci: "Indiferença é apatia, parasitismo, covardia. Não é vida...Vivo, sou militante. Por isso, detesto quem não toma partido".

Temos a responsabilidade política e crítica (não idealista ou deslumbrada em relação ao processo eleitoral) de sinalizar que não estamos lidando com grupelhos de blogs, revistas ou pessoas que transitam diariamente pelas ruas com seu senso comum, não estamos em uma mesa do bar, almoço do domingo ou em escritórios com amigos/as, colegas e companheiros/as divagando sobre as (im)precisões do destino, o espaço é outro, são outros.

Não é plenária final de encontro sindical, apresentação de tese partidária, disputa em conferências temáticas, não estamos na defesa de uma tese acadêmica, no qual a discussão da intelectualidade (ocidental) transita por diálogos com Freud, Marx, e/ou Foucault, idealizando suas práticas a partir de teorias que não superam ou constituem o real, e em nada nesses últimos momentos eleitorais interessam tanto, é óbvio que todo esse acúmulo neste momento, deve ser revertido em dimensões que advertem, contextualizam, apontam dilemas, criam dimensões e percepções, e no momento atual essa vitalidade deve perceber a expansão/reestruturação das universidades, dos cursos técnicos, dos incentivos para mestrado/doutorado, das bolsas de iniciação científica, a constituição de um orçamento universitário para projetos de extensão, articulações com instituições de ensino/pesquisa de várias partes do mundo, atuação solidária com populações e grupos vulneráveis, entre outras atuações demonstram qual posição devemos tomar para que possamos seguir mudando, atuando nesses espaços, nesse momento é necessário comportamento orientado, envolvimento e esforço.

O Voto em Dilma é oPTar.

Estamos diante da TPF, do DEM e de outros, de agentes que jogam sujo e pesado contra os direitos humanos, atacam projetos de transformação da sociedade e do Estado, estabelecem frentes em bloco contra aberturas de perspectivas da radical democracia; do lado direito do ringue, eles trabalham diariamente em seus gabinetes contra os necessários diálogos entre setores sociais e o Estado, sabotam campanhas salariais, desfilam projetos de lei contra a autonomia dos povos, orquestram repasses orçamentários que inviabilizam a execução pela máquina pública, enfim, mobilizam e utilizam o judiciário para refreamento de conquistas sociais, econômicas, sociais e culturais.

A voracidade por poder dos setores à direita do ringue encontra sua maior expressão na criminalização contínua de movimentos sociais, na defesa de uma conduta social policialesca e de uma naturalização das violações a todas as dimensões da dignidade humana, observem, que o discurso de recrudescimento nunca esteve tão forte, contra isso tudo é votar em Dilma, é oPTar.

Do ponto de vista concreto e cotidiano o período de FHC - PSDB/DEM representaram explosão no número de prisões arbitrárias, esquemas de escutas clandestinas pela Polícia (o Estado brasileiro acabou de ser condenado por uma delas na OEA), números alarmantes de reintegrações de posse (rural e urbana), a posição do Estado em sua governabilidade administrativa estavam todas nas mãos de pessoas e grupos indicadas pela elite econômica e política do país, era visível a omissão, falta de alternativas políticas, técnicas e jurídicas.

Do gabinete da presidência o controle das ações e reflexões dos movimentos sociais eram monitorados, um dos últimos atos de FHC no ano de 2002, foi a promulgação de uma Medida Provisória que colocava a administração pública na impossibilidade de vistoriar e desapropriar terras ocupadas por movimentos sociais, mesmo que a propriedade não cumprissem sua função social, enquanto alternativa, os grupos do campo, iniciaram ocupações em terras produtivas, com a finalidade de sinalizar áreas que não cumpriam os preceitos constitucionais e possibilitassem a negociação sem paralisação dos processos administrativos, o conluio com a mídia fez com que os atos políticos, fossem transformados em espetáculos contra a “Ordem”.

A elite latifundiária com a vitória de Lula (PT) em 2002 e começo do Governo em 2003 rearticularam seus contatos (dentro e fora do Estado) ameaçaram funcionários de carreira, mataram trabalhadores/as rurais, aumentaram as intimidações por meio de estratégias ligadas a uma mídia hegemônica (que não representa a liberdade de imprensa, mas apenas liberdade de empresas), durante esses anos turbulentos, proporcionaram mudanças de última hora em relatórios de CPMIs, entraram com ações diretas de inconstitucionalidade contra direitos quilombolas, federalização dos crimes contra os direitos humanos e promoveram resoluções de conflitos efetuadas por meio de milícias particulares contratadas sob o argumento de "Paz no Campo".
Nesse mesmo período, voltaram à cena política do Brasil as comunidades quilombolas, de Palmares imortal até a Família Silva atual (quilombo urbano em Porto Alegre) que trouxeram um desconforto dessas elites, pois, expõe o enfrentamento diário com nossa história racista, individualista e jesuítica, nos últimos anos, foi (re)apresentado um campo e uma cidade que não estavam com suas relações definidas, quilombolas, sem-terra, sem-teto, assentados/as, terreiros, indígenas e outros grupos tradicionais pulsam nas suas formas de re-articular as pressões contra/com e para o Estado, oPTar por esses grupos em suas vastas dimensões é votar em Dilma.

No INCRA/PE neste mesmo período (2003), durante uma reunião ainda era possível escutar de um latifundiário: "Se nem Geisel que era alguém da minha amizade, me convenceu a ceder terras para o Exército, imagina se para um protelariado, semi-analfabeto, irei permitir isso, mato todos eles e quem estiver apoiando...”.
Nessas terras que nem Geisel tocava, parte do latifúndio foi golpeado, as terras foram desapropriadas dentro do jogo “inventado” para não funcionar, o proletário assinou o decreto e nem o judiciário mais conservador conseguiu escapar de sua própria armadilha legalista, atualmente, vivem centenas de famílias assentadas, caso resolvido, não, falta muita coisa para que as famílias conquistem uma dignidade plena, porém, ninguém esquecerá na história da Reforma Agrária do Brasil o Caso Engenho Prado/PE, principalmente o latifúndio, pois, o nome dado ao Assentamento foi Chico Mendes, por aqui e por lá, do norte ao sul do país, esse nome aponta transformação, indignação e luta contínua, canta o outro Chico (Buarque) na letra da música Assentamento: “Quando eu morrer cansado de guerra, morro de bem com minha terra (...)onde só o vento se semeava outrora, amplidão, nação, sertão sem fim, Manuel, Miguilim, vamos embora...”

Não estamos na Bolívia, Colômbia, Venezuela, Cuba ou EUA, mas tais relações estão em jogo nas eleições e suas encruzilhadas internacionais também, nesse momento, vários companheiros/as e irmãos/as da América Latina e em África aguardam nossa posição interna e quais serão as nossas relações no cenário geopolítico, nessas condições, por autonomia, soberania e diplomacia constituída com base no diálogo, o voto é em Dilma.

É visível que os últimos 08 anos proporcionaram a migração de votos clientelistas, do coronelismo ou da roupagem moderna com práticas antigas que impulsionaram durante vários anos no cenário nacional figuras como Marco Maciel (depois de 40 anos não está em lugar algum da política!), Jarbas Vasconcelos, Heráclito Fortes, Tasso Jereissati, Fernando Collor e outros, pelo menos por enquanto, estão fora dos holofotes, no intuito de escrever e ratificar essas novas histórias, é importante oPTar por Dilma.

O MST, a CONTAG, a CPT, o MAB, a VIA CAMPESINA e até o RAGE AGAINST THE MACHINE, Dalmo Dallari, Marilena Chauí e centenas de juristas, filósofos, sociólogos, Reitores e professore/as das IE´s do Brasil, artistas, pequenos produtores, populares, comerciantes, profissionais da saúde, professores/as da rede pública, sindicatos de classe, redes feministas, movimento BGLTTT, Movimento Negro dentro de sua diversidade, quilombolas, ciganos, a Central Única dos Trabalhadores, entre outros, estão com Dilma e porque não oPTar?

Todos estão equivocados, cooptados, não possuem legitimidade de discutir projetos populares de transformação social? Não é válido querer derrotar no ringue que foi montado pela e para a direita, fazer mais uma vez tremer o chão? Fazer parte desse processo, do espaço em continuidade histórica, política, social e cultural não é válido? Esses grupos, não estão errados ou equivocados, não são todos aliados históricos do PT, entre eles existem divergências profundas, porém, não quedam silentes nos desafios e na luta contra um projeto de país no qual eles não cabem sequer enquanto grupos de reivindicação democrática.

Somos nesse período a mulher Dilma, o contra-projeto tucanesco e dos demos (da TPF), somos as lutas e as bandeiras emancipatórias. Antigamente tinha um slogan/adesivo do PT que era oPTei, é hora novamente de oPTar! Para seguir mudando o Brasil.

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