quarta-feira, 23 de julho de 2008

Esquinou-se de vez.



E saiu de casa com o ar esbaforido,

Dobrou a esquina em vários pedaços,
Leu a mão da cigana que assustada sorria,
Olhou para os postes e contrastes,
Aquietou seu celular vibrante,
Jogou seus contatos no bueiro.

E rompeu em um choro chorinho,
Ritmo e som de batucada,
Espetou o resto do seu dinheiro no churrasquinho,
Acreditou ser eterna a ressaca,
Criou um soneto cantado,
Versou sobre o bairro em estado de graça.

E mais perto do alvo do que do tiro,
Disparou nas galerias das inovações.
Olhou assustado do lado,
Secou lentamente o rosto,
Dos rastros escorridos do batom
Pensou atordoado: É tudo invenção!

E tardeou qual a balburdia de criança,
A cidade respirava em tom de ameaça,
Construiu com um lenço suado as primeiras palavras,
Rimou autenticidade com autoridade estatal,
Das esquinas amassadas entrou na contra-mão.
Pulou e não se aquietou nunca mais.

E abriu a porta da rua,
Entrou nas frestas dos mundos.
Sentou sobre a mesa e leu sobre si no jornal,
Na página 07 encontrou uma moça que fazia programas,
Mas agora é da Igreja Universal,
Guardou os cílios postiços e riu...como riram.

Um comentário:

Anônimo disse...

Caramba Eduardo, ficou muito bom!Fazia tempo que não lia nada tão instigante que me desse vontade de ler de novo!

"E mais perto do alvo do que do tiro,
Disparou nas galerias das inovações.
Olhou assustado do lado,
Secou lentamente o rosto,
Dos rastros escorridos do batom
Pensou atordoado: É tudo invenção!

E tardeou qual a balburdia de criança,
A cidade respirava em tom de ameaça,
Construiu com um lenço suado as primeiras palavras,
Rimou autenticidade com autoridade estatal,
Das esquinas amassadas entrou na contra-mão.
Pulou e não se aquietou nunca mais."

Fantástico!!